quinta-feira, 15 de agosto de 2013

De Mera Estatística à Ser Humano!

Hoje ao voltar do trabalho decidi não descer na minha parada habitual e seguir com os colegas até o Derby, onde voltaria para casa com uma colega de trabalho que não queria dirigir sozinha essa hora da noite pelo Recife.

Bem, seria uma noite normal depois de um dia atribulado... seria, mas não foi!

Não reconheci o Recife por onde passei! O centro da cidade era outro! Ruas e avenidas eram outras! Nada de buzinas, nem de trânsito, nem de pessoas andando apressadas pelas sendas recifenses sempre atrasadas ou em busca de algo! Conheci o Recife dos homens e mulheres sem identidade, nem nome, nem rostos...

O centro do Recife, depois das 23:30, é terra de ninguém! Deserto árido em plena selva de concreto! Nas calçadas papelão esticado, bolas humanas enroladas em cobertores rotos na tentativa de fugir do frio da noite, abrigados embaixo de marquises e toldos para se esquivar dos pingos da chuva que cai!

Esse é um Recife que não frequento! Nunca passei pela Conde da Boa Vista nesse horário, em dia de semana! Nunca reparei nos Joões e Marias-Ninguém que povoam o dia à dia da cidade! Aqueles mesmos Joões e Marias-Ninguém que durante manhãs e tardes estendem suas mãos em busca de uma moeda... que seguem as senhoras e moças desatentas às suas bolsas à espera da oportunidade de levá-las consigo! Não! Esse não é o meu Recife! E na verdade, é o Recife verdadeiro! O Recife que fechamos os olhos para não ver, que viramos o rosto para fazer de conta que não está lá! Mas, ele está lá, Lola!!!

Alguns dos que lerem essas linhas vão dizer "isso é culpa do governo" ou "isso é culpa da prefeitura", "culpa do poder público"... sempre é culpa do 'outro', nunca minha!

Meus queridos, a culpa é NOSSA! Da nossa inapetência em sermos humanos! Em sermos solidários e humildes para perceber que ali, naquelas calçadas, vivem avós, tios e tias, pais e mães, irmãos e irmãs de tantas e tantas pessoas que tiveram a infelicidade de se encontrar sempre à margem! Ah, Kafka! Como é atual sua metamorfose! 

Esses pseudo-humanos, seres sem qualquer valor para a sociedade, mera estatísticas do IBGE e órgãos afins, são os Gregor Samsa da cidade do Recife! São os indesejados das gentes! São os bestializados de Manuel Bandeira, que catam seu alimento na lata do lixo! Seremos nós no futuro, Lola, quando a indiferença diluir definitivamente a humanidade que ainda resta em alguns nos dias de hoje! 

Não, Lola, eu sei que não posso mudar o mundo! Mas posso mudar a minha forma de andar por esse mundo! Posso tentar humanizar o Homem-Estatística e torná-lo, novamente, o Homem-Humano, o Homem-Gente. Como eu posso fazer isso, Lola?!? Simplesmente abrindo os olhos!!!