sábado, 25 de janeiro de 2014

Xenofobia: quando o inferno são os outros e não eu!



Boa noite,Lola! Sei que ando escrevendo pouco e com espaços de tempo longo entre as postagens, mas, bem, o dever primeiro né amiga?!?

O assunto de hoje é uma cocada de sal, nada agradável, mas, em face das polêmicas que estão surgindo no universo facebookiano acerca de xenofobias sofridas por alguns brasileiros em terras de nossos patrícios portugueses, venho aqui falar um pouco de tudo aquilo que venho observando nesses meus quase cinco meses como moradora da cidade de Coimbra.

Antes de entrarmos nas questões espinhosas, vamos entender algumas coisas básicas. Primeiro, o que venho observando, Lola, é que existem, digamos, dois tipos de estudantes brasileiros aqui em Coimbra (me restringirei a falar do universo por mim conhecido e vivenciado):

1º - O Estudante da Bolsa Estatal: é aquele estudante, Lola, que veio para a Europa fazer mestrado ou doutorado bancado pelo poder público (Estadual e/ou Federal), em sua maioria se dedicam aferradamente aos estudos e aproveitam para absorver tudo o que podem da cultura local; nas férias vão conhecer outras cidades e outros países para aumentarem sua bagagem e voltarem pra casa com histórias para contar e lembrancinhas para distribuir; podem não ser Aristóteles, Heródotos nem Platões, mas se dedicam e buscam dar o retorno ao seu "patrono";mas, nessa categoria, há também aqueles que pensam que "Tia Dilma" está dando dinheiro para explorações antropológicas de outros países, bares, discotecas e toda sorte de experiência psicodélica e não se dedicam como deveriam aos estudos...

2º - O Estudante da Bolsa Patriarcal: bem, Lola, esse é o estudante bancado pelo bolso paterno/materno, muitos, que são conscientes dos gastos dos pais se dedicam tanto quanto quem veio com as despesas pagas pelo governo, em busca de dar o retorno merecido do investimento da família; porém, querida amiga, em sua maioria esses alunos são aqueles que nem sequer sabem o dia de entrega dos trabalhos, porque em dias de aula é comum os vermos portanto fotos de viagens pelo país e por outros países, ou seja, enquanto mamãe e papai pensam que suas crias estão nas salas de aula e bibliotecas, os meninos e meninas vagueiam pela Europa como se aqui estivessem numas férias "gratuitas" e "merecidas".  Infelizmente tem pai que é cego, Lola!!!!


Pois bem, a divisão é simplória e por devera resumida, agora, como bem deixo claro em ambos os casos, nenhuma generalização é feita, afinal, como sabemos, os seres humanos não são homogêneos entre si e nem tampouco se comportam igual.

E alguém pergunta: e os estudantes portugueses?

Bem, os estudantes portugueses, seguem essa dicotomia também. Só que a maioria é financiada pelos pais. Existem em suas fileiras aqueles que estudam e se dedicam aos seus cursos seja de graduação, seja mestrado/doutorado. Como, também, há aqueles que de domingo a domingo só são encontrados em festas, farras e bares. Bem, c'est la vie!

E o que diabos isso tudo tem relação com a xenofobia com os brasileiros, Lola?!? Calma, calma, estamos chegando lá.

Bem, aqui em Coimbra circulou uma tal de lista e, nessa lista, foram listados desrespeitos e insultos proferidos contra alunas e alunos brasileiros por professores, estudantes e diretores de diversas faculdades da Universidade de Coimbra.

De antemão, Lola, deixo claro que em nenhum momento sofri qualquer atitude xenófoba de quem quer que seja na Universidade nem tampouco presenciei o que nas redes sociais foi relatado.

Um dos primeiros pontos de queixas dos brasileiros é a automática classificação das brasileiras como vagabundas/prostitutas. Bem, sejamos realistas! O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes, dos quais mais de 55% são mulheres, se formos vender a imagem de que toda brasileira é prostituta, puts! Já imaginou?!? E, falando sério, esse discurso está mais velho do que minha santa vovozinha! Eu me pergunto: não existem portuguesas que são trabalhadoras do sexo não?!? Nem italianas? Nem suecas? Nem inglesas?!? Só as brasileiras? Bicho, acho melhor esses rapazes procurarem um psicólogo, porque ou é recalque porque levou um fora de uma brasileira ou é porque é retardado mesmo! E, muito diferentemente do que se pensa, apenas 10% das brasileiras topam sexo no primeiro encontro! Para vocês, gajos, levarem uma brasileira a lhe darem mais do que um beijo e um abraço, vocês terão que ralar e mostrar que merecem ter mais intimidade, nem cheguem perto de uma de nós pensando que é só sorrir que as pernas lhe serão abertas!! Vão sonhando! Vão sonhando!

Agora, uma coisa é pensar de forma retardada que brasileira é sinônimo de vagabunda (o que você pensa - ou não pensa - é problema seu!) outra bem diferente é fazer como um cidadão do curso de Letras da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra que postou no facebook que o "dever do homem português é estuprar mulheres brasileiras porque todas são vagabundas"! Incitar violência contra mulher é crime em qualquer lugar do mundo e eu me pergunto o motivo da Faculdade de Letras e da Coordenação do Curso de Letras não ter expulsado ou suspendido esse pseudo-indivíduo?!? Isso que ele fez é crime de ódio contra as mulheres! Porque se você estupra uma mulher, estuprará qualquer mulher! Então, meu conselho é: abram o olho e mudem esse paradigma falido e comecem a pensar melhor antes de falar (ou escrever)!

Outro ponto é dizer que apesar da xenofobia Coimbra é melhor do que São Paulo... sério?!? Por favor! Sejamos obtuso, mas a esse ponto?!? Xenofobia não é legal em nenhum lugar do mundo, os judeus que o diga, não é meus queridos?!? Ou os muçulmanos, que pagam o pato por uma pequena porcentagem de fanáticos desiludidos com o mundo!

Alguns perguntam: e como mudamos esse panorama?

Primeiro, mudando nossa postura. Nada de dar abertura para ninguém lhe diminuir ou hostilizar. Na hora da responsabilidade, tenha responsabilidade. Na hora de brincar, se esbalde! Saiba ter disciplina e administrar seu tempo! Se alguém lhe falar de forma desrespeitosa, com muita calma, coloque a pessoa no lugar dela e mostre que o caminho não é aquele. Se a situação se repetir, não bata-boca, não revide com palavras que sua mãezinha ficaria chocada, faça como os americanos: procure um advogado e entre com um processo por calúnia/difamação e assédio moral/sexual, de acordo com a natureza do seu problema.

E, na esteira da busca por evolução acadêmica, e ampliação da bagagem humana, procuremos, brasileiros e portugueses, viver de forma respeitosa e harmônica! O mundo já anda tão conturbado que retroceder ao período colonial onde colonizadores menosprezavam os colonizados era praxes, é uma imbecilidade e perda preciosa de tempo! Acordemos para a união de nossos países, pois, com toda certeza temos muito o que acrescentar no evoluir um do outro!