quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Guarani-Kaiowá, até quando?!?


Quando os portugueses chegaram nas terras brasilis encontraram seres humanos que viviam em comunhão total com a natureza, seres humanos que não conheciam os costumes vigentes na Europa, nem professavam a fé cristã/Católica, eram os ameríndios, os habitantes primeiros desse nosso imenso país. Para os portuga, os ameríndios eram apenas empecilhos ao seu projeto de expansão territorial, à sua busca por riquezas. No começo, era o escambo, a troca de badulaques como pentes e espelhos em troca da extração do pau-brasil. Depois foi a escravização para o trabalho nas lavouras de cana-de-açúcar, empreitada que não deu o resultado esperado. Mas, durante todo esse processo, os ameríndios foram sendo massacrados, foram sendo dizimados do território nacional.
Até o século XVII, a Igreja Católica não reconhecia o indígena como ser humanos, pois, para ela, o ameríndio não teria alma. Como assim, não teria alma?!? Não eram homens e mulheres e crianças como todos os outros?!? Sua forma religiosa animista tão longínqua do rito sacro cristão era designação de 'bonecos inanimados pagãos'?!? O que é trágico nessa visão Católica da não-alma ameríndia é perceber que o sistema judiciário nacional, perceber que os poderes executivo e legislativo nacional, ainda vêem os ameríndios como os 'sem-alma', haja vista o descaso das autoridades nacionais com os massacres, apropriações indevidas das terras indígenas por grandes fazendeiros (entre eles, caros colegas, a famosa e dissimulada Regina Duarte!) para criação de gado e cultivo. Essa semana, o país e o mundo, souberam do mais novo desrespeito aos nossos irmãos, tios, avós, enfim, aos nossos parentes do ramo ameríndio. Isso mesmo, parentes!!!! Afinal, qual o brasileiro que pode dizer que não tem sangue indígena ou africano em suas veias?!? Nenhum!! Pois bem, essa semana foi divulgado o massacre que está ocorrendo na Região Centro-Oeste Brasileira. A tribo Guarani-Kaiowá está sendo expropriada de suas terras pelo poder judiciário, para beneficiar grandes latifundiários!!! Mas não é só a expropriação da terra o que me preocupa! É  a violência que está prestes a ser desencadeada na região e, ao que parece, os nossos governantes, a nossa imprensa, as nossas celebridades (que pararam o país semana passada para saber quem tinha matado o Max!!!!) estão, de certa forma, fazendo vista grossa ao genocídio que se anuncia!!! Eu me pergunto, será que o capítulo final de uma pífia novela é mais importante do que a vida de seres humanos?!? Eu me pergunto, que tipo de país é o nosso que somente se importa com novelas, futebol e cerveja?!? Até quando iremos fechar os olhos para o que está bem a nossa frente?!? Teremos que esperar mais 512 anos para entender e perceber que não podemos ficar parados, de braços cruzados, esperando a mudança que não vem, porque deveria, na verdade, partir de nós?!? Vamos abrir a boca!!!! Gritar aos quatro ventos nossa indignação!!!! Esqueçam Max, Carminha e Tufão!!! Esqueçam a série A, B e C do brasileirão!!! Esqueçam a cerveja e o boteco!!!! Pelo menos por 24h se preocupem com algo que, verdadeiramente, importa!!!! Entrem em seus twitters, seus facebooks, seus blogs e não falem do que está comendo, do fora que levou, nem de sua roupa nova pra festa de sexta, mas faça um protesto, se coloque a favor daqueles que não conseguem espaço com suas próprias vozes!!!! Porque eu sou filha da terra, descendente de índios, descendente de negros e tenho em minhas veias o sangue guerreiro daqueles que lutam contra as injustiças, daqueles que acreditam e não desistem nunca!!!!!
Priscilla Quirino
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/10/121024_indigenas_carta_coletiva_jc.shtmlhttp://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/10/121024_indigenas_carta_coletiva_jc.shtml



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Loucura e Solidão





Todos os dias ao sair do meu apartamento, me deparo com uma senhora sentada no banco do jardim do prédio. Ela não fala com ninguém. Vive num mundo particular só dela. Contudo, todos os dias ela sempre está a fazer alguma coisa, ou está comendo, ou está penteando os cabelos, ou está organizando sacolas e mais sacolas e, sempre com um cigarro na boca. Aquela senhora no banco do jardim começou a chamar minha atenção e, então, procurei me informar mais sobre ela. Certo dia disse-lhe "Bom dia!", mas ela nem o notou. Depois de alguns 'bons dias' e nenhuma palavrinha sequer, nem mesmo um olhar de esguelha, fui perguntar ao porteiro se sabia quem era aquela senhora e o porquê dela não falar nunca com ninguém. Foi quando soube que ela era louca. Isso mesmo louca. Não só ela, mas, seus outros dois irmãos também. Então pensei "como deve ser triste viver numa família de loucos"! E o louco deles não é apenas tentar fugir da torpe realidade que nos cerca, não! A loucura deles é viver total e completamente num mundo a parte, irreal (para nós) e solitário. Sempre pensei que soubesse o que é solidão, mas, essa semana descobri que não o sabia de forma alguma. Domingo, por volta da hora do almoço, saí para ir até a padaria (você sabe, professora de segunda a sexta e Isaura só aos sábados, porque domingo é dia santo e ninguém merece ir para a cozinha!) almoçar e, ao passar pelo banco do jardim vi uma cena que me levou lágrimas aos olhos. Aquela senhora, a mesma senhora de todos os dias, estava mais uma vez sentada no banco do jardim, porém, não estava fumando seus cigarros nem comendo um pote de maionese. Não! Ela estava abraçada com um travesseiro. Isso mesmo, abraçada com um travesseiro! E quando eu vi aquilo parei de chofre! Ela não só abraçava o travesseiro, ela o cheirava e o beijava de olhos fechados. Foi então que eu percebi como ela era sozinha. Aquilo sim era solidão. Não essas definições de solidão, que nós, pseudo intelectuais dizemos que é. Mas a solidão real. Profunda e dolorida. A solidão de se estar verdadeiramente sozinho no mundo. Pois, ela vive num mundo só dela. Ela não tem mais ninguém com ela nessa viagem que nós chamamos 'vida'. E então eu percebi que o companheiro de estrada dela era aquele travesseiro. Que era a ele que ela contava seus segredos e devaneios. Era a ele que ela revelava aquilo que lhe ia na mente e no coração. E então, meus olhos turvaram e eu não pude mais ficar ali. Doía demais ver de perto a solidão. Era pungente demais. Era desumano demais. Invasivo demais presenciar aquele momento como um voyer da solidão alheia, voyer da dor alheia. E o pior de tudo, o mais sofrido de tudo, era saber no mais íntimo de mim mesma que jamais poderia aliviar a solidão daquela senhora. Jamais poderia lhe oferecer o acalanto do abraço amigo. Era impossível porque eu não compactuava com sua loucura, eu não estava no seu mundo hipercolorido ou preto e branco. Eu estava à margem disso. Eu estava na loucura nossa do dia a dia. Essa loucura branda, que usamos apenas para fugir, por um fugaz momento, do tormento que é nossa realidade vivente. E a aquilo que eu pensava que era solidão, percebi que era saudade. Nunca senti solidão. Nunca senti aquela dor profunda que vi em seus olhos ao abraçar seu querido e surrado travesseiro. E hoje a noite, apenas alguns minutos antes das doze badaladas, ao chegar do trabalho e entrar no prédio, vejo-a no mesmo banco de jardim, a  abraçar o mesmo travesseiro e a tapar a boca com uma das mãos como quem tenta conter o pranto. Parei de pronto! Meu coração se comprimiu. Minha garganta fechou. E pensei que ia me derramar em prantos ali mesmo. Eu, a que nunca chora, ia derramar as lágrimas de uma vida se ficasse ali mais um minuto. Então, como todo ser humano covarde, baixei a cabeça e comecei a caminhar para o refúgio do meu lar. Mas na minha mente uma frase ressoava "não te preocupes senhora, uma dia a dor passa e, quiçá, nos encontraremos nas voltas desse caminho como duas viandantes dessa loucura que se chama vida!"


Priscilla Quirino