quarta-feira, 17 de junho de 2015

Temer é Mais Fácil que Amar




Hoje, depois de tanto tempo sem escrever aqui no blog, não trago uma conversa com Lola, mas um texto que chama todos nós à reflexão sobre a intolerância que grassa a sociedade brasileira atual e, o mundo de forma geral.

Fala-se muito nas redes sociais da intolerância cometida contra o grupo LGBT por alguns cristãos evangélicos e católicos. Em contrapartida, alguns cristãos evangélicos e católicos reclamam da intolerância apregoada por alguns integrantes do grupo LGBT. Há também os praticantes das religiões afro-brasileiras que reclamam da intolerância sofrida por parte de alguns cristãos evangélicos e católicos. Como também alguns cristão evangélicos e católicos se queixam da intolerância por parte de alguns praticantes das religiões afro-brasileiras. E ainda há a intolerância praticada e sofrida pelo posicionamento político, seja esquerda, centro ou direita. Enfim, o que vejo atualmente no Brasil é um crescente culto ao ódio social, em todas as suas esferas.

Alguns justificam suas atitudes intolerantes com base em textos sagrados, sendo as passagens bíblicas as mais citadas. Tudo que não é o "comum" é motivo para ser desqualificado e combatido, afinal, no Antigo Testamento está a Lei de Deus.

Eu, enquanto cristã espírita, não consigo compreender a utilização do texto Vétero Testamentário para exemplificar o que vem a ser "um bom cristão", afinal, os livros que contêm o Antigo Testamento não são o Evangelho de Cristo. Aos que baseiam suas acertivas na Bíblia, eu pergunto se se lembram da passagem do Evangelho, quando Jesus foi questionado pelos discípulos dos fariseus sobre se se devia ou não seguir a Lei de Moisés e dos Profetas, e Jesus, em sua infinita bondade e compaixão responde-lhes que havia dois mandamentos que deveriam ser seguidos e neles estava contida toda a Lei: Amar ao teu Deus sobre todas as coisas e Amar ao teu próximo como a ti mesmo.

Ao meu ver, o verdadeiro cristão se utiliza destas duas máximas para guiar seu comportamento moral, ético e humano. Se eu me declaro cristão, mas apenas apregoo o ódio ao meu semelhante, a intolerância e o conflito, como posso inflar o peito e proclamar que sigo a Cristo? 

O Cristo que eu conheço veio ao mundo trazer a mensagem de Amor de Deus, o Pai de todos nós. Mas o que se vê hoje em dia é uma mensagem de ódio e não de amor. Temor em lugar de caridade. Uma pena que assim seja.

Perdemos tempo tentando qualificar outro ser humano pela sua roupa, sua crença, sua sexualidade, sua ideologia política, ao invés de nos preocuparmos com o que realmente importa e nos unirmos para combater os males reais desse mundo, como a descoberta de uma escravidão contemporânea com as meninas negras e pobres de uma comunidade quilombola no interior de Goiás. É muita perda de tempo e de vida que eu vejo hoje no Brasil. As pessoas estão mais preocupadas em se mostrar superiores a outras do que em efetivamente trabalhar por um mundo mais humanizado e harmônico.

É muito fácil usar o nome de Deus para justificar aquilo que moralmente é injustificável. É muito fácil ser um ótimo ritualista religioso, seguir as regras de sua crença e a praticá-las bem, mas, nem sempre um bom ritualista é um bom homem.

Se apregoa um moralismo social no Brasil, se enche a boca para falar num modelo de "família tradicional brasileira" quando se tem amantes e mal se olha para os filhos. Quem não leu sobre um Deputado da comissão da família, que no Congresso Nacional, durante uma plenária, estava assistindo pornografia? Quer dizer que o modelo de "família tradicional brasileira" é aquele modelo colonial em que a mulher cuida da casa e aguenta tudo calada, o marido é o provedor e tem amantes, e os filhos (exteriormente) fazem e são aquilo que os pais esperam? Então, eu acredito que a família brasileira está mesmo falida. Para mim, família é uma construção de amor que engloba indivíduos diversos que se aceitam e se amam pelo que são e não pelo que se deveria ser. Família é porto seguro e não fachada para propaganda de margarina. Quem pode dizer que tal família é melhor que qualquer outra família? Você? Eu? Ele? Ela? Quem criou a quantificação do valor do amor?

E, por falar em amor, há também intolerância em relação a forma de amar... incrível isso! Se eu sou uma mulher e amo um homem, eu sou bem vista e bem aceita... mas e se for um homem que ame outro homem? ou uma mulher que ame outra mulher? Não pode? Mas, quem estabeleceu a regra de que existe regra para o amor? Deus, que criou tudo o que há, veio a Terra e decretou isso? Deus, que é Pai e perfeito, a expressão sublime do Amor, verdadeiramente condenaria alguém por amar? Não acredito nisso. Acredito sim, que Deus daria tarefas mais árduas a todo aquele que pôde mas não praticou o amor, não o amor da carne, das paixões do ego, mas o Amor divino, aquele que de si tudo dá e nada pede em troca, Amor abnegado e que jamais espera recompensa, esse é o real Amor de Deus.

Como, eu pergunto, podemos sinceramente julgar alguém? Quem somos nós? Quando Deus outorgou o poder de julgamento a um simples ser humano, falho e imperfeito? Quem de nós não tem erros pretéritos e pode, de forma ilibada, atirar a "primeira pedra" sobre qualquer ser humano do Universo? Quem?!? Pois é, nenhum de nós tem esse poder, nem essa alma límpida e "sem pecado"... Então, porque julgamos o nosso próximo ao invés de conhecê-lo e amá-lo?!?

Nós julgamos e não amamos, porque é mais fácil o julgamento e o temor do que sentir e expressar o amor. Amor é coisa difícil, acreditem. Para que possamos amar alguém, primeiro precisamos amar a nós mesmos, contudo, antes de amarmos a nós mesmos precisamos saber quem somos e é aí que a coisa complica. Pensamos que somos algo, que somos assim e somos assado, mas na realidade não sabemos quem somos, pois, a ideia que temos de nós é ilusão, apego construído através do ego que nos projeta aquilo que gostaríamos de ser mas que em realidade não somos. Para saber quem somos faz-se necessário um mergulho em si mesmo, uma reformulação íntima... apenas assim saberemos quem somos e conheceremos nossos defeitos e qualidades... mas, a maioria de nós não quer fazer isso, porque é dolorido, demorado e solitário... contudo, ao meu ver, é apenas depois disso que se pode amar a si mesmo e então amar o próximo... Por isso que hoje amamos pouco e odiamos mais.

O ego nos pega de jeito. É o orgulho, a vaidade, o egoísmo, a prepotência, a intolerância, a arrogância, a mesquinhez, o desamor, a falta de compaixão, a raiva, o ódio... tudo isso está contido no ego, impulsionador das paixões animalescas e instintivas. É mais fácil ser ego, porque ser ego é não modificar-se é seguir a maré e reproduzir comportamentos, preconceitos e estereótipos... é dizer: se todos fazem, porque não eu? É mais fácil apedrejar uma criança que faz parte de um terreiro, do que amar essa criança... É mais fácil debater e ameaçar porque uma pessoa se crucificou na parada gay de São Paulo do que bradar contra os assassinatos dos homossexuais brasileiros. É mais fácil falar mal de quem é da esquerda ou da direita do que se construir propostas reais de mudanças concretas para o nosso país. É mais fácil falar de coisas fúteis do que se posicionar sobre os desmandos de Eduardo Cunha na Câmara. É sempre mais fácil alimentar e criar conflitos do que tentar agir e viver em harmonia. Afinal, a harmonia para existir requer que respeitemos o nosso próximo em todas as suas particularidades, mas, para isso, seria necessário conhecer e entender o próximo, quiçá se colocar no lugar dele, porém, se prefere bater, matar, humilhar, desqualificar, perseguir e xingar o próximo... é mais fácil temer que amar, não é? E é muito mais fácil se fazer temido do que se fazer amado.

Eu apenas me pergunto até quando se utilizará de máximas religiosas, racistas, segregacionistas para se tentar justificar o injustificável?!? Até quando se continuará a temer?!? E a ser temido?!? Hoje em dia se tem medo até mesmo de uma marca de perfume! Inacreditável! Imaginem se começarmos a ter medo do convívio social?!? "Não sairei de casa porque poderei encontrar algum gay na rua e só de olhar para ele eu também "virarei gay"".... "Não sairei de casa porque poderei encontrar um pastor ou um padre e só de ouvi-los posso me converter"... "Não sairei de casa porque posso encontrar um umbandista e só de cruzar com ele estarei fazendo oferenda para orixá"... "Não posso sair de casa porque posso cruzar com um negro e só de olhar para ele terei uma super produção de melanina e ficarei negro também"... "Não posso sair de casa porque posso cruzar com alguém do PT e só de olhar para ele votarei no PT também".... "Não posso sair de casa porque posso cruzar com alguém do PSDB ou DEM e só de olhar para ele votarei no PSDB ou DEM também".... a paranóia social está chegando a tal ponto que se converte em incredulidade... 

Eu, particularmente, preferirei sempre Amar ao invés de Temer! O Amor nos mói, nos purifica, separa o joio do trigo, nos molda, nos engrandece e nos ilumina... e é esse o caminho que eu tento seguir todos os dias: o de amar, sem selecionar a quem, sem quantificar e sem esperar nenhuma recompensa... E, espero de coração aberto, que um dia todos aqueles que apregoam a intolerância, o ódio e o temor à todos aqueles que são diferentes de si, também consigam chegar a amar e deixar de temer e ser temido!