terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Asas de Libertação ou Algemas de Cativeiro?




Na obra "Ação e Reação" psicografada por Chico Xavier, encontramos uma frase que se aplica bem nesse período do ano, onde todos nós temos a mania de construir 'listas' de resoluções para o ano vindouro... "ser mais paciente"... "estudar mais"... "emagrecer"... "ser generoso"... "melhorar-se"... "ir em busca de algum sonho ou objetivo"... enfim, nesse período do ano todos nós pensamos no que queremos para o nosso futuro, não é mesmo Lola? Seguindo então o espírito deste momento, trago-vos a frase de André Luiz, na referida obra entregue a nós através de Chico: "nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro, para nossa vitória ou nossa perda; a ninguém devemos o destino senão a nós mesmos".

Pois bem, Lola, como eu já mencionei, nesse período do ano todos nós projetamos metas e objetivos a alcançar no ano que está prestes a se iniciar. O que é interessante perceber, querida amiga, é que todas essas metas e todos esse objetivos quase nunca se iniciam com nós mesmos! Sempre estamos em busca de coisas externas a nós... coisas ligadas às mais diversas formas da matéria e isso termina, no mais das vezes, a nos atrapalhar nessa jornada em busca de algo... e quando o próximo ano findar e não tivermos conseguido alcançar o objetivo tão almejado procuraremos culpados para justificar nossa "perda"... sim, isso é ser humano em sua forma mais instintiva do termo.

André Luiz nos diz algo que é notório, mas poucos querem ver: a mais ninguém, além de nós mesmos, devemos o destino de nossas vidas. Todos os nossos atos ao longo de nossa existência trouxeram consigo consequências e essas consequências ditaram muito de nossa estrada, não é mesmo? Independentemente se os atos e as consequências forem positivos ou negativos, cada um deles nos moldou um pouco nos seres que hoje somos. O problema é que apenas poucos de nós se permitiram fazer uma viagem para dentro de si mesmos e, tirando camada por camada, conhecer o âmago de seus seres. Sei bem que não é fácil tal tarefa, muitas e muitas vezes reluto em fazê-la. O primeiro passo, como sabiamente diria Sócrates, é 'conhecer-se a si mesmo', e esse autoconhecimento não é fácil para ninguém,haja vista que para sabermos quem somos, verdadeiramente, é necessário que nos vejamos em nosso todo: seres com luzes e sombras. Nem tudo que somos é agradável, mas é mutável!

Então eu pergunto: se não sabemos quem somos, que paixões egoístas trazemos em nós, qual nosso potencial para o bem, e assim por diante... como podemos construir metas e objetivos para o ano que vem (ou qualquer outro ano) se não transformamos "nossa casa" (nosso Eu interior) afim de deixá-la pronta para receber nossas conquistas?

Ainda no livro "Ação e Reação", André Luiz nos diz que: "o Céu representa uma conquista, sem ser uma imposição; a Lei Divina, alicerçada na justiça indefectível, funciona com igualdade para todos; por esse motivo, nossa consciência reflete a treva ou a luz de nossas criações individuais (atos/escolhas); a luz, aclarando-nos a visão, descortina-nos a estrada; a treva, enceguecendo-nos, agrilhoa-nos ao cárcere de nossos erros".

Mais uma vez, aponta-nos André Luiz que nosso destino é responsabilidade personalíssima de cada um de nós. Desta forma, deveríamos ter como primeira meta para o próximo ano o objetivo de parar de imputar culpa em terceiros, no Universo, em Deus, nas circunstâncias ou no pretenso acaso... Comecemos a assumir a responsabilidade por nossas escolhas, por nossos atos, por nossos comportamentos, afinal, NÓS e APENAS NÓS somos os responsáveis por tudo aquilo que vivenciamos e alcançamos.... é o velho ditado "colhemos sempre o que plantamos"... e o que você está plantando em sua vida? A sua colheita será de luz ou será de sombra? 

O ano de 2015, que em 48 horas findará, trouxe consigo o cair de máscaras, perceberam? As intolerâncias aumentam a olhos vistos... intolerâncias religiosas, intolerâncias sexuais, intolerâncias étnicas, intolerâncias políticas... parece que perdemos a razão e todos os limites. Mas ser ou não intolerante é questão de escolha. Como é também questão de escolha ser harmonioso, tolerante e pacífico. 2015 foi o ano em que as sociedade mundiais tentaram assassinar a alteridade... onde ser diferente, pensar diferente ou agir diferente da maioria é prerrogativa para ser verbal e fisicamente atacado... esse foi o ano em que uma parte da humanidade abraçou a desumanização... mas isso não tem que ser permanente... da mesma forma que incorremos no erro podemos mudar-nos e começar a agirmos corretamente, Lola!

Muitos dizem, e já ouvi muito isso esse ano, que a humanidade não mudará, que tudo está ruindo e que o mundo ficará muito pior do que se encontra atualmente... Aí eu volto para o começo desse texto: de quem é a culpa? A culpa é do extremista? A culpa é do negro, do branco, do amarelo, do vermelho? A culpa é do católico, do muçulmano, do protestante, do umbandista, do espírita, do hindu...? A culpa é do de direita, do de esquerda? A culpa é de Deus, do Universo, do acaso? A culpa será sempre do outro e nunca nossa? Como podemos enxergar melhoria no mundo e a construção da paz e da harmonia entre os seres humanos se não começarmos a melhoras nós mesmos? Como podemos mudar o panorama que vemos no mundo se não mudamos primeiramente a nós mesmos? Não pode haver mudança concreta no macro-cosmos senão começarmos com o micro... e o micro, Lola, somos nós!

Desejo que o ano que se iniciará traga a todos vocês o impulso da transformação! Que a principal meta para 2016 seja a transformação interna de cada um de nós, a transformação de nossos atos cotidianos, de nossas escolhas equivocadas, de nossas posturas morais e éticas.... que iniciemos 2016 com o firme propósito de modificar-nos para, assim, estarmos prontos para alcançar todos os nossos sonhos e objetivos há longo tempo almejados!

"É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos". (O Livro dos Espíritos, questão 728).

Que tenhamos a coragem de "destruir" aquilo que pensamos ser e aquilo que nos coloca na sombra e reconstruamos a nós mesmos incessante e conscientemente! Por que, afinal, como também diz André Luiz: "quando chegarmos ao plano espiritual, ninguém irá nos perguntar qual era nossa religião (ou se tínhamos uma - grifo meu), mas sim, qual bem fizemos no mundo."

Um Feliz Ano Novo a todos vocês!!! Que 2016 seja um ano iluminado, amoroso e feliz para todos!!




sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Se Você Tem Medo do Amor, Você Tem Coragem Do Que?!?



Ao acordar hoje, dei de cara com essa foto compartilhada por Elaine no facebook. E essa pergunta: " se você tem medo do amor, você tem coragem do que?" ficou rondando a minha mente, Lola, e me deu o mote para esse texto.

Você já reparou, Lola, que todo ser humano deseja ter amor em sua vida, mas, ao mesmo tempo morre de medo de tê-lo? Pois é, Lola, essa é uma das muitas contradições dos seres humanos. Eu durante a maior parte de minha vida fiz parte dessa turma do "quero mas tenho medo".

Quando eu pensava no amor eu o via como uma via "cor-de-rosa" perfeita... o amor dos meus sonhos adolescentes era o sentimento da suprema felicidade e dentro dele não existiriam dores nem conflitos, não haveria poda nem mudanças profundas... o amor idealizado da minha adolescência era o amor dos romances em que se lutava muito e no final todos eram infinitamente felizes.

Sim, Lola, eu era muito ingênua quando era adolescente e não tinha noção do que o amor fazia em nossas vidas... mas, a vida me ensinou bem a amplitude do amor e seus meandros...

A maioria de nós faz do amor um "cálculo matemático errado", tal qual Clarice exemplifica tão bem: "porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar era fácil".  Nós todos temos a teimosa mania de acreditar que amar é algo fácil e que existe na confluência de características entre dois seres humanos... como nos enganamos, Lola!!! O amor se dá na vivência diária das "incompreensões" como assinala Clarice... o amor é coisa difícil e requer muita coragem, porque o amor faz com que saiamos de nós mesmos, de nossas certezas, de nossa imaginada segurança... o amor nos leva a lutar diariamente para que as relações que estabelecemos em nossas vidas não pereçam quando algo acontece que nos machuca ou que não vai de encontro aos nossos desejos... o amor pede o self e não o ego...

Além de ter que lidar com diferenças, conflitos, e incompreensões, o amor atua de forma mais profunda dentro de todos nós. Ele nos ilumina mas também nos dilacera. O amor dá de si mesmo e exige que nós também o façamos... e o 'dar de si mesmo' é algo que muitos de nós relutam em fazer... porque 'dar de si mesmo' é perder o controle (o falso controle que acreditamos possuir sobre nós e sobre a vida), é entregar em mãos alheias o poder de magoar-nos de uma forma que mais ninguém pode... 'dar de si mesmo' é despir-se de todas as máscaras e escudos, de todos os muros que nos protegeram ao longo de nossas vidas... é mostrar-se inteiro, nu e verdadeiro, Lola, como nunca antes imaginávamos ser possível... esse é o poder do amor em nossas vidas... e isso dá um medo da gota serena!

Gibran foi muito feliz quando nos alertou sobre o poder do amor e sobre o que seria cobrado de nós quando ele nos chamasse: "Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados. E quando ele vos envolver com suas asas cedei, embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-los. E quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento que devasta o jardim. Pois da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para o vosso crescimento, trabalha para a vossa poda. E da mesma forma que alcança a altura e acaricia vossos ramos mais ternos que se embalam ao sol, assim também ele desce até suas raízes e as sacode do seu apego a terra. Como um feixe de trigo ele vos aperta junto ao coração. Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete Divino [...]"

O amor não é o sonho cor-de-rosa da minha adolescência, Lola! Longe disso!! O amor é muito mais complexo e profundo que o "felizes para sempre" das estórias infantis... para amar é preciso ter coragem de se deixar moer... é preciso permitir que o amor atue dentro de nós e nos modifique, nos aperte e nos liberte, nos doa, até que sejamos maleáveis e dignos dele! Amar não é apenas "gostar por ter tido carinho".... amar é entregar-se de forma plena a alguém e ao longo da caminhada conjunta não desistir na primeira dificuldade ou contrariedade... amar é nunca desistir de lutar por si e pelo outro... amar requer coragem... amar requer comprometimento... amar requer estar atento e ouvir seu chamado... amar requer abrir-se para a vida, para o universo e para o outro de uma forma que jamais pensamos que conseguiríamos fazer... amar é SER e nunca TER... amar é a chave que abre a prisão em que nós temos nos colocado ao longo de todo a nossa existência na Terra... sim, amar não é fácil, Lola... mas "se você tem medo do amor, você tem coragem do que?!?"



"Se achar que precisa voltar, volte!
Se achar que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente!
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Circunde-se de rosas e ame...
O mais é nada.

Fernando Pessoa