Desde quarta-feira que o facebook pulula de notícias sobre a nomeação do filho de Eduardo Campo, João Henrique Campos, para assessor do Governador do Estado de Pernambuco, Paulo Câmara. Para além das notícias envolvendo essa nomeação, surgiram notícias sobre a nomeação da filha mais velha de Eduardo Campos, Maria Eduarda Campos, para assumir a gerência de zoneamento especial do Instituto Pelópidas Silveira, órgão ligado a Secretaria de Planejamento Urbano da cidade do Recife.
A notícia dessas duas nomeações estão em destaque na maioria dos meios de comunicação do Estado de Pernambuco, para além das redes sociais, e está causando indignação em boa parte da população pernambucana (inclusive a mim, que estou tão longe). Para compreenderem o porque de tanto alarde com o fato desses jovens terem conseguido esses cargos, sugiro que leiam com atenção as linhas que se seguem.
Quem acompanha meu blog deve ter lido os textos que escrevi aqui sobre o circo em que foi transformada a tragédia da morte de Eduardo Campos durante a campanha eleitoral para Presidente da República do Brasil. Pois bem, aquela forma de se aproveitar de uma tragédia para conseguir vitórias políticas dentro do estado de Pernambuco funcionou como fórmula mágica, o que a meu ver foi uma pena... utilizaram a morte de algumas pessoas para consolidar o sobrenome Campos como sinônimo de 'novo coronelismo', oops, mudança. Muitos pernambucanos entraram na onda do 'não vamos desistir do Brasil', grito de 'guerra' conclamando pela família Campos e seus apoiadores. Na minha própria família, muitos se deixaram levar pelo apelo emocional do momento e deram seus votos a Paulo Câmara, vendo nele, de forma ingênua e irreal, o substituto e continuador da política de Eduardo para o Estado. Hoje, a grande maioria da população pernambucana que deu seu voto a Paulo Câmara, na verdade, à memória de Eduardo Campos, se arrepende, pois, perceberam o sucateamento do estado, da educação estadual, a desvalorização do funcionalismo público... enfim, perceberam o erro cometido quando viram os desmandos do governo... onde não há dinheiro para honrar os compromissos, mas há dinheiro para comprar frutos do mar (num valor de aproximadamente 400 mil reais) e contratar um buffet caríssimo para o Palácio do Campo das Princesas (ou seria agora Palácio dos Campos, apenas?).... e isso é dizer o mínimo da má administração do Senhor Governador Paulo Câmara. As únicas pessoas contentes com a sua administração são aquelas que estão lucrando com a mesma... mas, a maioria da população pernambucana não está satisfeita com nada do que a atual gestão pratica com nosso estado.
Para além das questões de aproveitamento da tragédia familiar para fazer política, temos também o afilhado político de Eduardo Campos, Geraldo Júlio, atual prefeito da cidade do Recife, capital pernambucana. Geraldo Júlio é inigualável no quesito má gestão, principalmente no que se refere à proteção do patrimônio público, à questão urbana do Recife e no quesito de ouvir a população da cidade sobre aquilo que se espera ter e viver nos espaços públicos do Recife. Um dos maiores desrespeitos da gestão de GeJu é a questão do Cais José Estelita, que deu origem ao movimento Ocupe Estelita/Resiste Estelita. O projeto para o cais, chamado de 'Novo Recife' (nome do consórcio vencedor da licitação) foi ganho através de uma licitação questionada pelo Ministério Público devido a suas irregularidades. O projeto prevê construção de torres, hotel, centro de convenção... área verde... tudo isso cercado e isolado por um muro... não é, por certo, um projeto que visa a utilização do espaço pela população da cidade... longe disso... é um projeto excludente e que descaracteriza o Cais como patrimônio histórico do Pernambuco açucareiro...
Aconteceu algo interessante e inimaginável durante o carnaval... e o fato está de certa forma ligado ao movimento Ocupe Estelita/Resiste Estelita... durante o carnaval a Troça Carnavalesca Empatando sua Vista, que faz uma ironia ao projeto Novo Recife, sofreu assédio de funcionários da Prefeitura do Recife que cercaram os participantes da Troça tentando os impedir de sair pelas ruas, durante o Desfile do Galo da Madrugada, dizendo que não havia autorização para que a Troça desfilasse... Desde quando uma Troça carnavalesca precisa de autorização da Prefeitura para desfilar no Carnaval do Recife? Nunca precisou e pela lei municipal, apenas Blocos Carnavalescos precisam de registro e autorização da municipalidade para isso, pois, apenas os Blocos recebem auxílio da Prefeitura... enfim... quebraram a Torre da Troça (uma espécie de carro alegórico)... cercaram o prédio onde os participantes se concentravam, com caminhões da prefeitura e a Polícia Militar... no final, a Troça conseguiu sair e a legalidade e a democracia foram vitoriosas... uma pequena mostra do autoritarismo do poder municipal do Recife...
Os fatos narrados acima são apenas um pequeno panorama do que acontece hoje, no Governo do Estado de Pernambuco e na Prefeitura do Recife.. uma forma de situar o leitor para a realidade pernambucana atual..
Mas, voltemos para o tema central do texto... A nomeação dos dois filhos mais velhos do Ex-Governador Eduardo Campos.
A Maria Eduarda e o João Henrique, com 23 e 22 anos respectivamente, devem ser ótimas pessoas, o caráter deles e suas idoneidades não são questionados aqui por mim. Não os conheço pessoalmente, nunca falei ou me aproximei de nenhum dos dois, portanto, não me aterei aqui a construir juízo de valor sobre os indivíduos. Meu interesse é analisar os fatos de conotação política que os envolve, nada mais, nada menos.
Pois bem, Maria Eduarda tem 23 anos, está concluindo o curso de arquitetura (algumas pessoas dizem que ela ainda não entregou o trabalho final o que a habilitaria para realmente estar formada), é uma jovem formanda e com certeza tem uma longa estrada a sua frente para vir a se tornar uma boa profissional. Ela, como todos os outros jovens formandos, deve ter as ferramentas para se constituir como uma boa arquiteta... e esse é justamente o ponto: se constituir. Ela ainda não é uma boa arquiteta, nem uma grande arquiteta... nem ao menos uma profissional experiente. Ela foi estagiária do órgão no qual hoje ocupa uma gerência... mas quantos aqui foram estagiários e quantos aqui foram chamados, por mais duro que trabalhassem e por excelentes estagiários que fossem, para ocupar um cargo de gerente no órgão público no qual estagiou? Alguém?!? Ninguém, não é? Sabe porque?!? Não, não, não é por não ter o sobrenome Campos... não seja boba, Lola! Nenhum de nós que já foi estagiário foi convidado para ocupar um cargo de chefia nos órgãos em que trabalhamos simplesmente porque não tínhamos experiência profissional para tanto! Todos nós estávamos em formação, em contrução na direção do profissional que hoje somos... e mesmo hoje, estamos ainda em constante construção... e aprimoramento... então, a questão é: Qual a experiência profissional de Maria Eduarda Campos que a qualifica para ocupar um cargo de chefia num órgão importantíssimo, que pensa e aprova a questão do planejamento urbano da Cidade do Recife, além do fato de ter sido estagiária e ter o sobrenome Campos?!? Que a Maria Eduarda me desculpe, mas, nesse momento da vida dela, ela não tem NENHUMA experiência profissional que a qualifique além de ser filha de quem é. Ponto.
Agora chegamos ao João Henrique Campos. O João Henrique tem 22 anos, é aluno do curso de Engenharia Civil (ainda não se formou). O João Henrique é visto pelos apoiadores políticos de seu pai como o sucessor político do mesmo. Até aqui, tudo ok e válido. Mas, aí vem o questionamento: qual a experiência profissional que um rapaz de 22 anos, graduando, tem para ocupar o cargo de assessor do Governador do Estado? A Maria Eduarda ainda foi estagiária (o que também não a qualifica), mas e o João Henrique? Além daquilo que presenciou em casa, com a vida política do pai, quais outras qualificações ele possui para ocupar tal cargo como seu 'primeiro emprego'?!? Sim, Lola, o João Henrique pode vir a ser um político como o pai, se tornar um bom articulador como Eduardo foi... mas aqui também o 'pode vir' é a questão central. Ele ainda não é. Ele não possui a qualificação necessária, como a irmã, além de ser filho de quem é. Até mesmo a prima, Marília Arraes, questionou essa nomeação. Essa nomeação nada mais é do que uma forçada de barra para tentar perpetuar os Campos no poder do Estado. Não há como perceber isso de outro jeito. E mais, porque o João Henrique também não começou como 'estagiário'?!? O que o torna superior a irmã para começar como assessor de um governador e ela como estagiária.. o fato de ser, como o chamam, ' filho homem mais velho'?!?
Sim, Lola, se eu não tivesse mais o meu pai, claro que eu iria querer honrar sua memória e fazer com que seu nome não fosse esquecido entre aqueles que o amavam e admiravam... mas em tudo na vida há um limite, Lola, até mesmo nesse desejo de honrar memórias, e quando se ultrapassa esse limite começa a ficar muito feio. Eu jamais ia querer ficar conhecida nem ser apontada nos lugares nem na mídia (não que eu algum dia chegue a ser capa de jornal, Deus me livre!) como a 'Fulana que foi nomeada a tal cargo por ser filha do Fulano de tal'! Não, Lola! Tudo o que eu ralo e ralei na minha vida foi para ser reconhecida, profissionalmente, por mim mesma! Deve ser muito triste perceber que para satisfazer interesses mesquinhos de poder você deixa de ser você e se torna apenas 'filho/filha de fulano/fulana'... Eu não sei, sabe Lola... Mas se eu fosse a Maria Eduarda e o João Henrique eu teria declinado os convites... sim, claro que eu tentaria honrar o meu pai.. mas antes de assumir cargos para os quais nenhum dos dois são qualificados seria mais bonito e digno eles se construírem enquanto indivíduos, enquanto profissionais, para aí sim, exercerem cargos políticos... porque aí eles teriam a qualificação e competência necessárias e não apenas o sobrenome Campos para lhes garantir o singelo 'primeiro emprego'!
E as perguntas que eu deixo aqui para nossa reflexão são: até quando nós pernambucanos permitiremos que uma única família comande o nosso Estado? Até quando fecharemos os olhos para essa tentativa de transformar Pernambuco na Capitania Hereditária Campos... onde ou há de ser Campos ou há de ser desempregado? O nome do Palácio do Governo, que foi uma homenagem à visita de D. Pedro II e suas filhas à Pernambuco, mudará de Palácio do Campo das Princesas para Palácio dos Campos em homenagem a essa pretensa nova dinastia que tenta se apoderar de Pernambuco?!?
Libertemos-nos destas correntes e dessas vendas que tapam nossos olhos! Pernambuco é de todos os pernambucanos e não é conhecido pelo espírito aguerrido de seu povo para se curvar perante os interesses políticos de uma só família!
Deixo com vocês, abaixo algumas imagens que ironizam bem a questão aqui tratada!
*O título do texto de hoje é um trocadilho com o livro do Paulo Cadena - Ou Há de ser Cavalcanti ou Há de ser Cavalgado - fruto de sua pesquisa de mestrado na UFPE e que fala da família Cavalcanti e do seu poderio no Pernambuco oitocentista.