Lola, minha querida, aprendi que nossa função nesse mundão de meu Deus é fazermos o bem aos nossos semelhantes e tocar o coração das pessoas que cruzam nosso caminho... aqui nessa terras de além-mar uma pessoinha tocou meu coração e desde o momento em que a vi na janela de sua varanda, com algumas lágrimas a lhe correr pelo rosto, percebi que ali havia alguém que me faria mais humana... sim, Lola, eu já a tinha visto antes, ela era minha vizinha, no meu primeiro endereço aqui em Coimbra... sim me mudei, mas ela meio que "veio comigo"... O nome dela? Bem, originalmente foi-lhe dado o nome de Isabel, mas eu prefiro imaginá-la como Emília... sim, Lola, a Emília do querido Monteiro Lobato, simplesmente porque Isabel a faz apenas mais uma senhorinha portuguesa, enquanto que Emília a faz uma menina travessa que tem uma alma jovem apesar da idade cronológica...
Os encontros que o universo nos proporciona nessa nossa estrada da vida nos leva sempre a algum tipo de aventura, não é minha amiga Lola?!? Pois bem, vou contar aqui como me aproximei da Emília...
Era a semana seguinte à páscoa e depois de ver a Emília triste e solitária a fitar o céu de sua varanda, resolvi fazer-lhe um agrado para iluminar um pouco seus dias... fiz-lhe uma torta de maçã e de forma descarada toquei-lhe a campainha... ela abriu-me a porta um tanto quanto desconfiada, afinal nunca tínhamos nos falado antes e morávamos uma ao lado da outra... sim, esse é o mal dos tempos modernos... a falta de laços entre as pessoas que nos rodeiam... mas, enfim, Emília abriu-me a porta e não acreditou quando lhe disse que aquela torta era para si como presente de páscoa... ela aceitou-a, meio a contragosto eu percebi, e agradeceu o gesto... e, Lola, a partir daquele momento começamos a construir entre nós uma ponte...
Começamos a conversar sobre as coisas do Brasil e de Portugal... ela falou das risadas da Buda ( que com certeza todo o prédio podia ouvir! rsrsrsrsrsrsrsrs) e em como ela parecia ser alegre (antes do meu café nunca achei piada nos bom dias efusivos...)... e em como nós brasileiras animávamos as pessoas que estavam a nossa volta... Nascia ali, naquele momento, mais que uma amizade, nascia uma sentimento fraterno de família... a Emília transformou-se para mim em um misto de mãe, avó e irmã... em alguns momentos me lembra muito minha avó Josefa, minha tchequinha... em outros lembra-me a minha mãe... e em alguns outros lembra minhas irmãs e as traquinagens que fazíamos juntas...
A Isabel é mãe e avó na vida cotidiana... a Emília é um espírito livre que sonha em percorrer o mundo e fazer peraltices como as que acontecem nas páginas fantásticas de Lobato... são duas pessoas distintas que habitam o mesmo corpo, às vezes pequenino e outras vezes tão gigante... com a amizade dela me senti mais em casa e a saudade diminuiu um pouco das coisas da minha terra... Serei eternamente grata ao universo por ter me presenteado com esse ser humano tão lindo e tão singelo... Coimbra tem sido muito generosa comigo ao colocar em meu caminho pessoas que levarei sempre no meu coração aonde for... e que muito mais que amigos, são sim, minha família do além-mar... Seja muito bem-vinda a família, minha querida Isabel-Emília!!!!
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