quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Para Léo, com imenso carinho...




Era o natal de 2014 quando nos conhecemos. Fazia frio e as ruas estavam todas enfeitadas de luzes e cores, de pessoas felizes a caminhar e a saudar mais um findar de ano. Da forma surpreendente que acontece os encontros nessas bandas de cá, somente por aqui uma pernambucana e um paraibano de círculos tão distintos se conheceriam. Junto com outros amigos comemoramos o natal e o ano novo e ali, naqueles poucos dias, nascia uma semente de amizade.

A nossa amizade nasceu pequenina. A princípio parecia uma amizade que duraria apenas o tempo da viagem... quando voltássemos ao nosso cotidiano de estudos e pesquisas, mesmo morando na mesma cidade, o mais provável seria seguirmos caminhos distintos e vez ou outra nos encontrarmos em eventos comuns promovidos por nossos outros amigos. Mas, como todas as coisas pequeninas, a nossa amizade de semente virou broto e de broto se transformou em árvore gigantesca e de profundas raízes.

O dia a dia de Coimbra se transformou no dia a dia do 'trio'... e, junto com Wil, estávamos sempre encangados (no bom pernambuquês)... para tomar um vinho e fazer alguma comida... para tomar um vinho e ouvir música... para ir ao Irish... ao cinema... almoços, jantares... cafés... nos tornamos quase um ente único... rsrsrsrsrsrs... e o Léo sempre tinha uma tirada espectacular e engraçada... seja na sua pronúncia do nome da cidade de Valência... seja em quaisquer outros assuntos. 


Quando eu me mudei para Lisboa, a dinâmica do nosso trio modificou um pouco... um componente tinha ido para outra cidade e nosso cotidiano já não era mais o mesmo.... mas, aqui, quando a saudade bate é fácil resolver... pega-se um ônibus ou um trem e em duas pequeninas horas estamos juntos... 

Esse natal eu e o Léo passamos juntos.. ouvimos muito o David Bowie... e no ano novo também estávamos juntos... recebemos 2016 da mesma forma que recebemos 2015: celebrando felizes o novo ano que chegava e o 'aniversário' de nossa amizade... e a sensação que se tem quando se é amigo assim é que o nosso tempo é a eternidade... já reparou, Lola?

Viver aqui, como estrangeiros que somos, faz com que tenhamos uma estranha noção do tempo. Acreditamos que quando voltarmos para o Brasil o nosso tempo juntos será igual ao que aqui vivenciamos... eu acreditava nisso, Lola.. ou, quem sabe, minha mente me enganou nisso para que eu não sentisse tanto o peso das despedidas...

Hoje Léo voltou para o Brasil. Fui ao aeroporto me despedir. Ficamos conversando por mais de duas horas. E no meio de nossa conversa, quando Léo falava das novas configurações de sua vida, ele disse a frase que me fez escrever esse texto: "Pri, o tempo que vivemos aqui é diferente do tempo que viveremos lá no Brasil. O tempo nosso aqui é precioso e nunca mais o teremos novamente, porque quando estivermos todos no Brasil, seremos engolidos pelos compromissos cotidianos e por mais que tenhamos em nossos corações a vontade de nos reunirmos, nem sempre será possível. O tempo daqui, Pri, é diferente de lá porque aqui o nosso cotidiano é estarmos juntos e lá será estarmos separados. O nosso tempo aqui não deve ser desperdiçado porque jamais o viveremos novamente". 

Ouvir isso deu um baque no meu coração, me doeu e eu quis chorar. Mas não chorei. Não queria deixar Léo triste antes de embarcar. Eu nunca tinha pensado nisso, no fato de que quando voltarmos para o Brasil nossas relações serão diferentes, não porque as amizades mudaram, mas porque no Brasil seremos engolidos pelo cotidiano... trabalho, família, compromissos diversos... no Brasil não mataremos as saudades em duas horas de estrada... no Brasil não poderemos nos reunir nos finais de semana ou mesmo durante a semana para tomar uns vinhos e jogar conversa fora... Porque, no Brasil, cada um de nós irá viver num lugar distante e tudo é muito mais longe que aqui... No Brasil viveremos, nas palavras de Mia Couto, "sofrendo de lonjuras". Perceber isso fez meu coração pequeno... e a tristeza que até então estava contida pela partida do meu amigo se aboletou em mim... foi difícil esperar chegar em casa para pensar nisso tudo e jogar aqui.

Abraçar Léo antes dele embarcar e dizer o quanto eu era feliz por tê-lo como amigo, o quanto eu queria seu bem e o quanto eu o amava como um lindo irmão que a vida me deu foi difícil, porque ali naquele momento eu não tinha mais o conforto da ilusão que seria tudo igual quando eu voltasse também. Não será. E como será? Eu não sei como será, Lola. A única coisa que eu sei é que 'sofreremos de lonjuras', mas mesmo distantes o amor fraterno que uniu a mim e a Léo será sempre o mesmo não importa o tempo...

A Léo, meu muito obrigada por ter vivido parte do tempo daqui junto comigo! Meu muito obrigada por ter sido (e ser) meu amigo! Muito obrigada por me cuidar e por me alegrar... obrigada, Léo, pelos vinhos, pelos risos, pelos cinemas, pela cantoria, por todas as caminhadas por Coimbra... pelo tempo aqui em Lisboa... O mundo é teu, meu amigo!! Conquiste-o, viva-o, ame-o!! Você volta hoje para Jampa como um novo Leonardo e na sua bagagem o nosso trio continua intacto!! Te amo!!!



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