terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Asas de Libertação ou Algemas de Cativeiro?




Na obra "Ação e Reação" psicografada por Chico Xavier, encontramos uma frase que se aplica bem nesse período do ano, onde todos nós temos a mania de construir 'listas' de resoluções para o ano vindouro... "ser mais paciente"... "estudar mais"... "emagrecer"... "ser generoso"... "melhorar-se"... "ir em busca de algum sonho ou objetivo"... enfim, nesse período do ano todos nós pensamos no que queremos para o nosso futuro, não é mesmo Lola? Seguindo então o espírito deste momento, trago-vos a frase de André Luiz, na referida obra entregue a nós através de Chico: "nossos atos tecem asas de libertação ou algemas de cativeiro, para nossa vitória ou nossa perda; a ninguém devemos o destino senão a nós mesmos".

Pois bem, Lola, como eu já mencionei, nesse período do ano todos nós projetamos metas e objetivos a alcançar no ano que está prestes a se iniciar. O que é interessante perceber, querida amiga, é que todas essas metas e todos esse objetivos quase nunca se iniciam com nós mesmos! Sempre estamos em busca de coisas externas a nós... coisas ligadas às mais diversas formas da matéria e isso termina, no mais das vezes, a nos atrapalhar nessa jornada em busca de algo... e quando o próximo ano findar e não tivermos conseguido alcançar o objetivo tão almejado procuraremos culpados para justificar nossa "perda"... sim, isso é ser humano em sua forma mais instintiva do termo.

André Luiz nos diz algo que é notório, mas poucos querem ver: a mais ninguém, além de nós mesmos, devemos o destino de nossas vidas. Todos os nossos atos ao longo de nossa existência trouxeram consigo consequências e essas consequências ditaram muito de nossa estrada, não é mesmo? Independentemente se os atos e as consequências forem positivos ou negativos, cada um deles nos moldou um pouco nos seres que hoje somos. O problema é que apenas poucos de nós se permitiram fazer uma viagem para dentro de si mesmos e, tirando camada por camada, conhecer o âmago de seus seres. Sei bem que não é fácil tal tarefa, muitas e muitas vezes reluto em fazê-la. O primeiro passo, como sabiamente diria Sócrates, é 'conhecer-se a si mesmo', e esse autoconhecimento não é fácil para ninguém,haja vista que para sabermos quem somos, verdadeiramente, é necessário que nos vejamos em nosso todo: seres com luzes e sombras. Nem tudo que somos é agradável, mas é mutável!

Então eu pergunto: se não sabemos quem somos, que paixões egoístas trazemos em nós, qual nosso potencial para o bem, e assim por diante... como podemos construir metas e objetivos para o ano que vem (ou qualquer outro ano) se não transformamos "nossa casa" (nosso Eu interior) afim de deixá-la pronta para receber nossas conquistas?

Ainda no livro "Ação e Reação", André Luiz nos diz que: "o Céu representa uma conquista, sem ser uma imposição; a Lei Divina, alicerçada na justiça indefectível, funciona com igualdade para todos; por esse motivo, nossa consciência reflete a treva ou a luz de nossas criações individuais (atos/escolhas); a luz, aclarando-nos a visão, descortina-nos a estrada; a treva, enceguecendo-nos, agrilhoa-nos ao cárcere de nossos erros".

Mais uma vez, aponta-nos André Luiz que nosso destino é responsabilidade personalíssima de cada um de nós. Desta forma, deveríamos ter como primeira meta para o próximo ano o objetivo de parar de imputar culpa em terceiros, no Universo, em Deus, nas circunstâncias ou no pretenso acaso... Comecemos a assumir a responsabilidade por nossas escolhas, por nossos atos, por nossos comportamentos, afinal, NÓS e APENAS NÓS somos os responsáveis por tudo aquilo que vivenciamos e alcançamos.... é o velho ditado "colhemos sempre o que plantamos"... e o que você está plantando em sua vida? A sua colheita será de luz ou será de sombra? 

O ano de 2015, que em 48 horas findará, trouxe consigo o cair de máscaras, perceberam? As intolerâncias aumentam a olhos vistos... intolerâncias religiosas, intolerâncias sexuais, intolerâncias étnicas, intolerâncias políticas... parece que perdemos a razão e todos os limites. Mas ser ou não intolerante é questão de escolha. Como é também questão de escolha ser harmonioso, tolerante e pacífico. 2015 foi o ano em que as sociedade mundiais tentaram assassinar a alteridade... onde ser diferente, pensar diferente ou agir diferente da maioria é prerrogativa para ser verbal e fisicamente atacado... esse foi o ano em que uma parte da humanidade abraçou a desumanização... mas isso não tem que ser permanente... da mesma forma que incorremos no erro podemos mudar-nos e começar a agirmos corretamente, Lola!

Muitos dizem, e já ouvi muito isso esse ano, que a humanidade não mudará, que tudo está ruindo e que o mundo ficará muito pior do que se encontra atualmente... Aí eu volto para o começo desse texto: de quem é a culpa? A culpa é do extremista? A culpa é do negro, do branco, do amarelo, do vermelho? A culpa é do católico, do muçulmano, do protestante, do umbandista, do espírita, do hindu...? A culpa é do de direita, do de esquerda? A culpa é de Deus, do Universo, do acaso? A culpa será sempre do outro e nunca nossa? Como podemos enxergar melhoria no mundo e a construção da paz e da harmonia entre os seres humanos se não começarmos a melhoras nós mesmos? Como podemos mudar o panorama que vemos no mundo se não mudamos primeiramente a nós mesmos? Não pode haver mudança concreta no macro-cosmos senão começarmos com o micro... e o micro, Lola, somos nós!

Desejo que o ano que se iniciará traga a todos vocês o impulso da transformação! Que a principal meta para 2016 seja a transformação interna de cada um de nós, a transformação de nossos atos cotidianos, de nossas escolhas equivocadas, de nossas posturas morais e éticas.... que iniciemos 2016 com o firme propósito de modificar-nos para, assim, estarmos prontos para alcançar todos os nossos sonhos e objetivos há longo tempo almejados!

"É preciso que tudo se destrua para renascer e se regenerar. Porque, o que chamais destruição não passa de uma transformação, que tem por fim a renovação e melhoria dos seres vivos". (O Livro dos Espíritos, questão 728).

Que tenhamos a coragem de "destruir" aquilo que pensamos ser e aquilo que nos coloca na sombra e reconstruamos a nós mesmos incessante e conscientemente! Por que, afinal, como também diz André Luiz: "quando chegarmos ao plano espiritual, ninguém irá nos perguntar qual era nossa religião (ou se tínhamos uma - grifo meu), mas sim, qual bem fizemos no mundo."

Um Feliz Ano Novo a todos vocês!!! Que 2016 seja um ano iluminado, amoroso e feliz para todos!!




sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Se Você Tem Medo do Amor, Você Tem Coragem Do Que?!?



Ao acordar hoje, dei de cara com essa foto compartilhada por Elaine no facebook. E essa pergunta: " se você tem medo do amor, você tem coragem do que?" ficou rondando a minha mente, Lola, e me deu o mote para esse texto.

Você já reparou, Lola, que todo ser humano deseja ter amor em sua vida, mas, ao mesmo tempo morre de medo de tê-lo? Pois é, Lola, essa é uma das muitas contradições dos seres humanos. Eu durante a maior parte de minha vida fiz parte dessa turma do "quero mas tenho medo".

Quando eu pensava no amor eu o via como uma via "cor-de-rosa" perfeita... o amor dos meus sonhos adolescentes era o sentimento da suprema felicidade e dentro dele não existiriam dores nem conflitos, não haveria poda nem mudanças profundas... o amor idealizado da minha adolescência era o amor dos romances em que se lutava muito e no final todos eram infinitamente felizes.

Sim, Lola, eu era muito ingênua quando era adolescente e não tinha noção do que o amor fazia em nossas vidas... mas, a vida me ensinou bem a amplitude do amor e seus meandros...

A maioria de nós faz do amor um "cálculo matemático errado", tal qual Clarice exemplifica tão bem: "porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar era fácil".  Nós todos temos a teimosa mania de acreditar que amar é algo fácil e que existe na confluência de características entre dois seres humanos... como nos enganamos, Lola!!! O amor se dá na vivência diária das "incompreensões" como assinala Clarice... o amor é coisa difícil e requer muita coragem, porque o amor faz com que saiamos de nós mesmos, de nossas certezas, de nossa imaginada segurança... o amor nos leva a lutar diariamente para que as relações que estabelecemos em nossas vidas não pereçam quando algo acontece que nos machuca ou que não vai de encontro aos nossos desejos... o amor pede o self e não o ego...

Além de ter que lidar com diferenças, conflitos, e incompreensões, o amor atua de forma mais profunda dentro de todos nós. Ele nos ilumina mas também nos dilacera. O amor dá de si mesmo e exige que nós também o façamos... e o 'dar de si mesmo' é algo que muitos de nós relutam em fazer... porque 'dar de si mesmo' é perder o controle (o falso controle que acreditamos possuir sobre nós e sobre a vida), é entregar em mãos alheias o poder de magoar-nos de uma forma que mais ninguém pode... 'dar de si mesmo' é despir-se de todas as máscaras e escudos, de todos os muros que nos protegeram ao longo de nossas vidas... é mostrar-se inteiro, nu e verdadeiro, Lola, como nunca antes imaginávamos ser possível... esse é o poder do amor em nossas vidas... e isso dá um medo da gota serena!

Gibran foi muito feliz quando nos alertou sobre o poder do amor e sobre o que seria cobrado de nós quando ele nos chamasse: "Quando o amor vos chamar, segui-o, embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados. E quando ele vos envolver com suas asas cedei, embora a espada oculta na sua plumagem possa feri-los. E quando ele vos falar, acreditai nele, embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos como o vento que devasta o jardim. Pois da mesma forma que o amor vos coroa, assim ele vos crucifica. E da mesma forma que contribui para o vosso crescimento, trabalha para a vossa poda. E da mesma forma que alcança a altura e acaricia vossos ramos mais ternos que se embalam ao sol, assim também ele desce até suas raízes e as sacode do seu apego a terra. Como um feixe de trigo ele vos aperta junto ao coração. Ele vos debulha para expor vossa nudez. Ele vos peneira para libertar-vos das palhas. Ele vos mói até a extrema brancura. Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis. Então ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma no pão místico do banquete Divino [...]"

O amor não é o sonho cor-de-rosa da minha adolescência, Lola! Longe disso!! O amor é muito mais complexo e profundo que o "felizes para sempre" das estórias infantis... para amar é preciso ter coragem de se deixar moer... é preciso permitir que o amor atue dentro de nós e nos modifique, nos aperte e nos liberte, nos doa, até que sejamos maleáveis e dignos dele! Amar não é apenas "gostar por ter tido carinho".... amar é entregar-se de forma plena a alguém e ao longo da caminhada conjunta não desistir na primeira dificuldade ou contrariedade... amar é nunca desistir de lutar por si e pelo outro... amar requer coragem... amar requer comprometimento... amar requer estar atento e ouvir seu chamado... amar requer abrir-se para a vida, para o universo e para o outro de uma forma que jamais pensamos que conseguiríamos fazer... amar é SER e nunca TER... amar é a chave que abre a prisão em que nós temos nos colocado ao longo de todo a nossa existência na Terra... sim, amar não é fácil, Lola... mas "se você tem medo do amor, você tem coragem do que?!?"



"Se achar que precisa voltar, volte!
Se achar que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente!
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-as.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Circunde-se de rosas e ame...
O mais é nada.

Fernando Pessoa







sábado, 21 de novembro de 2015

Somos Humanos num Mundo Desumanizado...





Madre Teresa de Calcutá certa vez disse: "encontrei um paradoxo, que se você amar até doer, não poderá haver mais dor, somente amor". O que seria 'amar até doer' nesse mundo em que vivemos? Para mim, 'amar até doer' é o ato de não apenas se doar a alguém, é muito mais que isso... é tentar se colocar no lugar do outro, sentir e partilhar suas dores, acolhê-lo, desejá-lo em sua vida, alimentá-lo com alimentos que fortaleçam seu corpo e iluminem sua alma... é começar a ser humano na sua mais pura e sublime significação! E é isso que falta a todos nós nos dias atuais...

As notícias dos jornais aqui na Europa falam apenas de sangue, violência e morte... Os atentados de Paris causaram comoção, lágrimas, desespero e medo... O atentado em Mali quase não foi mencionado... as mortes na Nigéria também não... mas em todos esses lugares há o mesmo sentimento de dor e impotência... o sentimento de desamor e desolação... a sensação que a escuridão é muito mais potente que a luz... quando o ser humano, por mais momentâneo que seja, perde a esperança, para de perceber a luz no final do túnel e não acredita que haja uma solução para o problema em questão que não inclua ainda mais violência, desolação e morte...

O Estado Islâmico lança ameaças, homens-bomba e medo no mundo (não apenas na Europa). Mas, essa "guerra santa" que eles travam com o mundo ocidental e seus apoiadores tem, não podemos negar, razões históricas para ser. Durante séculos as grandes potências europeias usurparam, exploraram e ocuparam territórios de outras nações com o discurso expansionista e nesse processo houve milhares de mortes (mulheres, crianças, idosos, jovens, civis, militares), mas a História não fala muito sobre isso porque estamos acostumados a trabalhar sempre o ponto de vista dos vencedores, nunca dos vencidos. Enfim, ao longo de todos esses séculos de exploração e vilipêndio era de se esperar que houvesse resistência e retaliação. É aquela máxima de "vocês nos matam e nós matamos vocês", é o ciclo infindo da violência, do governar-se pelo instinto... 

Não estou aqui fazendo apologia ou justificando o EI, longe disso! Estou apenas tentando mostrar que por trás de todo grupo militarmente organizado há uma história... E esse tipo de grupo alcunhado de terrorista não é prerrogativa do Oriente Médio... haja vista o ETA e o IRA... ambos grupos militares e separatistas europeus... por trás do ETA  e do IRA também há fatores históricos... Apesar de nenhum fator histórico justificar a violência nem tampouco legitimá-la é importante tê-los em mente para podermos compreender o cenário maior... afinal, tal qual uma pintura que antes de ficar pronta e exposta numa galeria precisou de todo um processo de preparação e maturação, assim também todos esses grupos que espalham o terror por onde passam tiveram semelhante tempo de maturação e preparo, não nasceram do dia para a noite...

Muitos vão dizer que o EI é o que é porque todo muçulmano é fanático... não sejamos generalistas nem ingênuos, ok?!? O EI é o que é porque existiram indivíduos carismáticos que venderam e incutiram nas mentes de muitos um discurso de ódio ao diferente e de uma necessidade "sagrada" de dizimar todos aqueles que não comungassem da mesma visão... O radicalismo e o fanatismo não são características apenas dos grupos extremistas oriundos do Islã... alguém aqui se lembra das Cruzadas, da Inquisição, do Nazismo, e tantos outros movimentos que tinham (e têm) em sua base esses dois elementos: fanatismo e radicalismo?!? Que bom que muitos se lembram! Pois bem, todos esses movimentos (os do passado e os que hoje estão ativos) tiveram (como sempre têm) interesses ocultos (econômicos, políticos e sociais), apoiadores e financiadores... O Estado Islâmico hoje existe devido a ganância de muitos para benefício de pouquíssimos... alguém já se perguntou quem financiou o nascimento do EI? Se perguntou quem vende as armas e todos os aparatos explosivos ao EI? Acho que poucos são os que se perguntaram isso.... sabem porque? Porque o discurso "ou eles ou nós" é mais forte que todos esses questionamentos racionais acerca do problema, simplesmente porque, vivemos numa sociedade assolada pelo discurso do medo...

Não existe nos dias de hoje um ser humano como Gandhi que libertou milhões de indianos e paquistaneses sem derramar uma única gota de sangue. Não, meus amigos, não temos mais um Gandhi. O mundo hoje parece que retrocedeu ao estado de barbárie. Nós não perguntamos quem é, nós vamos lá e atiramos. Nós não estamos interessados em conhecer aquele que é diferente de nós. Nós não estamos interessados em dialogar porque jogar bombas é mais seguro... jogar bombas não gera empatia com o outro... jogar bombas é impessoal... Nós não estamos interessados em achar uma solução humana para a questão do terrorismo e da violência porque nós somos seres humanos habitando um mundo desumanizado... Nós não conseguimos compreender que violência apenas gera mais violência e entramos nesse ciclo sem fim de destruição e morte... O mundo está doente e nós estamos todos adoecendo com ele, e isso senhores é uma pena! Muitos dizem que se matarem os cabeças do EI toda essa onda de violência batendo em nossas portas irá acabar... e a esses eu chamo de ingênuos... a questão não se resolverá apenas matando os líderes do EI ou desmembrando o grupo... a questão dessa violência desenfreada só irá ser resolvida quando pararmos de explorar os seres humanos em busca de ideais egoístas... até que isso aconteça, existirão ainda muitos grupos semelhantes ao EI e a todos os grupos radicais...

E aqui volto para a frase do início desse texto: "amar até doer"... A culpa do atentando em Paris, das mortes diárias na África, na Ásia e na América é de todos nós! Sim senhores, de TODOS NÓS! A culpa é nossa quando viramos a cara para os problemas que surgem. A culpa é nossa quando dizemos a célebre frase "eu não tenho nada a ver com isso"... Ah, meus queridos! Nós todos somos culpados pela falta de amor no mundo... pelas nossas intolerâncias e preconceitos que vezes sem conta levam outros seres humanos a morte... nós somos culpados pela desolação e o desamor que hoje parecem fazer parte indelével do planeta Terra... somos culpados por não nos importarmos com nada além de nossos umbigos, de nossos pequenos universos... nós esquecemos o princípio fundamental do universo que é a conexão de todos nós... nenhum ser humano é uma ilha nem pode viver isolado... todos nós em algum momento de nossas vidas precisaremos de alguém ao nosso lado... Acredito que está na hora de começarmos a "amar até doer", na hora de nos colocarmos no lugar da pessoa que está do nosso lado ou apenas passou por nós pela rua... Apenas pelo amor conseguiremos ter, algum dia, uma sociedade harmônica e pacífica... Será que não tivemos ainda derramamento de sangue suficiente? Será que bombas, tiros, morte, sangue, tortura são mesmo a solução do problema? Ou, a real e única solução é nos tornamos aquilo que proclamamos ser sem sê-lo ainda: humanos?!?

Encerro esse texto com o desejo que a violência que hoje vivenciamos aqui na Europa e no mundo em geral possa chegar a um fim em breve... e, mesmo que assim não seja, que mais e mais pessoas comecem a praticar a 'humanidade' amorosa e compassiva entre os seres para que então possamos viver num mundo em que não tenhamos mais medo de ir e vir e onde não tenhamos falta de tempo para "saber o outro".


domingo, 1 de novembro de 2015

O Amor...





Essa semana li um texto que tinha por título a frase de Frida Kahlo "onde não puderes amar, não te demores". Passei alguns dias pensando nessa frase específica e percebi que Frida estava certa, onde não se pode amar não é lugar para se demorar nem fixar residência.

Vejam, amar não é coisa fácil nem indolor. Amar é coisa dificílima e doída. Porque amar requer que estejamos abertos para a vida de uma forma plena, é fazer-nos vulneráveis para outra pessoa, amar é entregar a outro ser humano o supremo poder de nos magoar. Amar não é fácil, meus queridos, mas se não pudermos conhecer esse nascer e morrer que é o amor, então, era melhor nem andarmos pela estrada da vida.

Tem pessoas que dizem amar mas na verdade não amam. Se encontram muitas vezes em situações de aprisionamento pela paixão, pelo tesão, enfim, por qualquer que seja a dependência que têm do outro, mas isso não é amor. Amor não aprisiona... amor é o que nos liberta!

Outros existem que acreditam que não escolhemos amar alguém ou algo. Eu discordo. Nós escolhemos sim amar. Para que amemos alguém, uma coisa ou uma causa, é preciso que nos libertemos de nossos medos e conceitos pré-concebidos... que nos encontremos abertos e permissivos... se estivermos fechados, o amor dançará em frente aos nossos olhos e nós simplesmente não o veremos... Então, para que amemos qualquer coisa ou pessoa é imprescindível que estejamos verdadeiramente abertos a esse "universo estranho" que é o outro... dessa forma, sim, nós escolhemos a quem e ao que amamos... É quase como escolher dar um copo d'água a quem tem sede ou fechar a porta em sua cara... Amar é escolha... e a mais difícil e compensadora escolha que qualquer ser humano pode fazer...

Alguns dizem por aí que hoje em dia amar está difícil... em certa medida concordo com eles... afinal, vivemos numa sociedade em que os amores líquidos são os chamarizes nas "vitrines"... É muito mais fácil construir uma relação com alguém que não nos desafia e não nos tira do nosso eixo, da nossa zona de conforto... alguém que se não der certo, vira-se a esquina e parte-se para outra... São as relações fugazes e rasas... Acho que o medo que se sente hoje de se arriscar verdadeiramente numa relação profunda, medo de arriscar se magoar, medo de tentar "aparar arestas" é o que está levando a essa onda de amores líquidos... Mas, amor líquido é uma forma muito pobre de amor... quase covarde... é aquele tipo de "amor" que não paralisa... aquele "amor" que não dá medo porque não requer daqueles que o praticam um mergulho profundo em si e no outro... Não estou aqui condenando quem é adepto dessa prática, longe de mim julgar alguém... se você ainda não está pronto para viver o amor da forma certa, vai vivendo como consegues... o dia sempre chega para todos nós...

Esse papo sobre amor me lembrou uma de minhas canções favoritas, na voz fenomenal da Nana Caymmi, "Resposta ao Tempo"... O amor e o tempo, de certa forma, 'conversam' ao longo de toda a letra da música... 

"Respondo que ele aprisiona; eu liberto; que ele adormece as paixões; eu desperto"... o tempo é um carcereiro, ele encarcera nossa mente nas projeções de um futuro que não existe... é sempre "e se não der certo" "e se isso" "e se aquilo"... sempre nos pegamos analisando o tempo que ainda está por vir... a temporalidade nos aprisiona dentro de nós mesmos... dentro das dúvidas e confusões de nossa mente... mas o amor chega e nos liberta.. o amor vive no hoje e não no amanhã... então vivamos plenamente o hoje, simplesmente porque o amanhã não se sabe e pode ser tarde, muito tarde, para despertar uma paixão amarelecida...

O ser humano "morre" de amor e pelo amor renasce... o problema desse processo é o medo... portanto, Lola, e todos vocês que me lêem agora, não tenham medo!! Se você ama alguém, mas as dúvidas te assaltam, o medo faz você sublimar isso, está na hora de dizer basta e ir em frente... o máximo que qualquer um de nós pode receber é um "não"... e pelo que eu saiba "não" nunca matou ninguém (sei bem do que falo)... Se você ama uma causa mas acha que ainda é cedo para se comprometer, vá em frente... se comprometa... ame e distribua esse amor... se você ama um objeto e quer guardá-lo apenas para si, não o faça... compartilhe-o... não existe nada mais poderoso no universo do que amor partilhado...

Enfim, Lola, se você sente amor não se aprisione pelo redemoinho que a sua mente pode criar... apenas ande até a ponta do precipício e se jogue! Se arrisque, Lola, se arrisque!! A vida inteira é feita de riscos e de escolhas... cada escolha traz uma renúncia... de todas as escolhas e de todos os riscos que a vida nos oferece, amar é o único que vale verdadeiramente a pena!!


sábado, 22 de agosto de 2015

Esperando na Janela




Vocês já acordaram em um dia cinza e se perceberam "esperando na janela"?!? Acho que todos nós, durante boa parte de nossas vidas ficamos assim, parados em nossas salas "esperando na janela".

O que será que estamos fazendo ali, observando a vida quotidiana da cidade passar diante nossos olhos, com seus sons, cheiros e cores, como se fosse algo tão distante de nossa janela que sua única função é construir um quadro que não nos contém?

O que esperamos? Quem esperamos? O que queremos com essa atitude de "esperar na janela"? O que será que entrará pela nossa janela que pensamos ser tão maravilhoso que não conseguimos nos mover do lugar?

"Esperar na janela" é a metáfora de muitas vidas... é a metáfora de nossas vidas, nem que por apenas um breve momento. 

Quando somos crianças, e o relógio da cozinha bate as 18:00, corremos para esperar na janela da sala de estar a chegada de nossos pais de seu trabalho. Nesse momento, a espera na janela é o espelho da esperança infantil de que nossos pais retornarão para casa e viverão conosco as magias de mais uma noite em família.

Quando nós viajamos, não importa a idade que tenhamos, sempre preferimos ir na janela, não é? Viajamos grudados na janela e nela esperamos para ver os novos horizontes que a estrada ou o céu nos traz. Esperamos na janela para ver em primeira mão a exuberância das novas cidades e países que iremos desbravar e viver. Esse esperar na janela descortina todo um novo mundo de costumes, culturas e cores, no qual não vemos a hora de mergulhar! É o esperar na janela das possibilidades.

Quando alguém novo entra em nossas vidas, também estamos esperando na janela. Não importa a forma com que conhecemos esse alguém, o que importa é que no momento em que dissemos "olá" também estávamos esperando na janela! E esse esperar na janela é a chave de conhecer novas pessoas, fazer novos amigos, vivenciar novos amores... é o esperar na janela do amor em sua ampla significação!

Há aqueles, porém, que esperam na janela a vida inteira. Esperam na janela pelo emprego dos sonhos. Esperam na janela pelo amor da vida. Esperam na janela pela vida ideal. Esperam na janela pelo sonhado lar. Esperam na janela para desbravar novos horizontes. Mas esse esperar na janela é estático, monótono e não nos move à lugar algum. Esse é o esperar na janela daqueles que têm medo de arriscar tudo pelos seus sonhos e apenas se sentam numa cadeira confortável e aguardam... aguardam... aguardam... mas nessas janelas, passarinhos não cantam, a luz do sol não entra e a sala parece sempre noite! Esse é o esperar na janela das pessoas que têm medo... que já sofreram... que não se permitem estar abertas a esperar na janela da vida e realmente viver tudo aquilo que essa janela lhes oferece!

Sim, hoje eu espero na janela... não espero coisas grandiosas nem espetaculares! Espero na janela pelas coisas simples, singelas... Espero na janela pelo amanhecer e pelo pôr-do-sol... Espero na janela pelos filhos que um dia terei... Espero na janela doando o amor que trago dentro de mim a todas as pessoas que passam por ela... Espero na janela para vivenciar paixões e mergulhar de cabeça em suas maravilhas e mistérios.... espero na janela para vivenciar de novo e mais uma vez o amor romântico... Sim, eu já sofri, já fiquei estática no lugar, já fui moída pela vida em diversas ocasiões... já fechei a janela por um tempo... mas, percebi que correr riscos pelo que vale a pena (seja um novo emprego, uma nova cidade, a família ou alguém que nos faz bem) é a tônica maior de "esperar na janela"... 

Esperar na janela não é algo sem sentido! Longe disso! Esperar na janela é abrir suas portas para que todos os sons, cores e presentes da vida possam entrar em você e operar o milagre da transformação que é o ponto central de toda essa nossa jornada no planeta Terra! Por isso, espere na janela, e quando avistar algo que lhe chame atenção, pule a janela e apenas viva!!


segunda-feira, 17 de agosto de 2015

No Brasil Estamos Perdendo a Razão?

Ontem, aqui em Coimbra, eu estava conversando com um querido amigo pernambucano sobre a História de nosso Estado. Recitamos o Hino de Pernambuco, lembramos do carnaval e da bela História do povo aguerrido de nossa terra natal.

Pernambuco sempre foi terra de pessoas guerreiras e comprometidas com os ideais libertários e republicanos. No século XIX tivemos três grandes Revoluções: a Revolução de 1817 ( primeira a constituir uma república, que teve curta duração; além de ter sido a primeira Revolução do Período Imperial Brasileiro a ter reconhecimento na imprensa internacional, notadamente a Norte-Americana); A Revolução de 1824 ( mais conhecida como Confederação do Equador) e a Revolução de 1848 ( a Revolução Praieira). Em todas essas Revoluções, o espírito republicano estava presente e era profundamente defendido. Para além destes movimentos, o povo pernambucano sempre esteve na vanguarda das grandes mudanças sociais, políticas e econômicas do nosso país, as reivindicações feitas pelos pernambucanos estavam conectadas ao universo macro brasileiro, nunca foi algo de "nós" apenas para "nós".

Como pernambucana, nasci também com esse espírito aguerrido, e fui ensinada desde pequena a sempre lutar pela justiça e em favor daqueles que não podem se defender sozinhos. Sempre fui adepta do protesto quando algo não ia bem. Adepta de exigir meus direitos, cumprir meus deveres e analisar os dois lados da moeda.

Ontem, no Brasil, foi dia de mais uma manifestação contra o atual Governo Federal, contra esse novo mandato de Dilma Rousseff. Sempre defenderei o direito de todos de ir às ruas protestar pelo fim da corrupção, por melhorias nos nossos serviços públicos, pela diminuição da desigualdade social que ainda hoje grassa nossa sociedade. Sempre, independente da circunstância, apoiarei o direito de todos exporem suas ideias e desejos, suas propostas para melhorar o panorama político-social do nosso país. Não importa em quem votamos nas eleições passadas, não importa se somos classe A, B ou C... nada disso importa se estamos verdadeiramente comprometidos a melhorar o Brasil, mas melhorá-lo para TODOS os brasileiros, que fique claro!

Acredito que entre aqueles que foram às ruas ontem pedir o "Fora Dilma" e o "Fora PT" haviam sim pessoas que querem uma mudança real e efetiva do panorama político e social brasileiro. Acredito, também, que ali naquela multidão haviam pessoas de poucos escrúpulos que conseguem enxergar apenas seus próprios umbigos. Como acredito que naquele meio haviam pessoas que estão tão vazias de amor que só conseguem pregar ódio com cartazes que pedem volta da Ditadura Militar (Deus nos livre!), que perguntava porque em 1964 todos não foram mortos, cartazes que chegaram ao ponto de perguntar porque Dilma não foi enforcada no DOI-COD.. cartazes dizendo que a Presidenta da República tinha apenas três saídas: a renúncia, o suicídio ou o impeachment. Ali, naquela multidão, também haviam pessoas que não sabiam porque estavam na rua, que não entendiam absolutamente nada sobre o sistema político brasileiro, que não conhecem a nossa Constituição, e que foram às ruas dançar coreografias como se estivessem num carnaval de rua lá em Salvador... Sim, havia todo tipo de pessoas nas ruas ontem, alguns legitimamente e conscientemente pedindo mudanças e outros destilando ódio, intolerância, e pedindo por golpe.

Eu não fui para as ruas ontem porque eu não sou da Direita, eu sou da Esquerda. Sim, eu sou uma pernambucana com inclinações ancestrais pela esquerda. Contudo, isso não quer dizer que sou cega para o que acontece no Brasil. Não quer dizer que não luto e faço minha parte na tentativa de que o nosso país deixe de ser tão corrupto (tanto política quanto socialmente). Não quer dizer que eu não gostaria que Dilma Rousseff melhorasse sua atuação nesse novo governo (mas aí eu lembro: como alguém pode atuar se não está conseguindo governar?). Ser de Esquerda não quer dizer que eu apoiaria uma Ditadura Socialista no nosso país (não sou a favor de nenhum regime totalitário), não quer dizer que eu espero que o Brasil seja Cuba ou Venezuela, ser de Esquerda quer dizer que eu luto pela justa distribuição de renda entre todos os brasileiros, que eu luto por melhores condições de vida para todos os 200 milhões de brasileiros... ser de Esquerda significa dizer que eu luto para que no Brasil chegue o dia em que TODOS nós tenhamos saúde, educação, segurança, alimentação, transporte e moradia de qualidade. Ser de Esquerda não é sinônimo de usurpação... eu não quero tirar de um para dar ao outro, eu quero que ambos tenham as mesmas oportunidades e condições.

Enquanto ser político que sou (e todos nós somos) e historiadora, acredito que a corrupção que existe no nosso país é algo antigo e não atual, sendo assim, não podemos atribuir de forma irresponsável e leviana todos os problemas nacionais sobre os ombros de uma única pessoa ou partido político, todos são responsáveis e no Congresso Nacional raro será encontrar algum indivíduo isento de culpa. Em relação à crise, ela é mundial e não apenas nossa... mas, diferentemente das crises econômicas que já vivenciamos no Brasil (crises tão grandes e graves que ainda me lembro que de um dia para o outro o preço do saco de leite subia mais de 70% em relação ao dia anterior), apenas as crises anteriores eram crises que afetavam a vida cotidiana no concernente a alimentação e contas... eram as crises que faziam surgir campanhas nacionais para salvar as crianças desnutridas do Nordeste. A crise que hoje se vive no Brasil é uma crise do consumo e é o declínio desse consumo, sentido principalmente pela Classe Média e Classe Média-Alta, que está levando muitas destas pessoas a perderem a razão e pedir por golpe e não conseguir esperar para fazer as mudanças de forma legal e constitucional. Eu sempre ouvi dizer que quando se mexe no bolso todo ser humano se indigna... e, numa análise bem rasteira, é mais ou menos isso que vejo acontecer no Brasil (em sua maioria, pelo menos).

Eu acho que devemos sim tentar mudar o panorama de nosso país, devemos procurar alternativas para o melhorar e melhorar a vida de todos os seus cidadãos, mas devemos fazer isso de forma legal e não através de golpismos e ódios. Meu conselho é que todos exerçam seus direitos através do voto. Querem mudar o panorama? Nas próximas eleições para prefeitos comecem essa mudança nas urnas! Querem mudar o panorama da corrupção na política nacional e estadual? Nas próximas eleições para governadores, deputados, senadores, Presidente, façam essa mudança nas urnas.

Mas, por favor, parem de pregar ódios, rancores... parem de agredir as pessoas nas ruas apenas por pensarem diferente de vocês.... parem de desejar a morte de pessoas... parem de se comportar como meninos birrentos que estão com ódio pessoal contra a Presidenta da República e se posicionem como adultos conscientes e com propostas sólidas para melhorar o Brasil para TODOS os brasileiros, e não apenas para "o povo de bem"!


Mais Amor e Menos Ódio, por favor!!   

domingo, 26 de julho de 2015

À Pedro, com amor





Há um tempo atrás escrevi aqui no blog sobre Dona Isabel, uma querida amiga que fiz aqui em Coimbra e sobre como a vivacidade dela iluminou um pouco mais a minha vida, hoje, depois de longo tempo sem escrever por aqui venho falar de outra pessoa que me é também bastante cara. Hoje eu falarei do meu irmão, do irmão que a vida me deu, o nome dele é Pedro, Lola, e o conheço há mais de uma década, mas só vim mesmo a conhecê-lo aqui em Coimbra... é... Coimbra tem me proporcionado muitas surpresas.

Dizem que só se conhece verdadeiramente alguém quando se convive com essa pessoa de forma quotidiana sob o mesmo teto... Pois bem, Pedro chegou aqui em Coimbra no dia 27 de abril desse ano, veio me ver e passar quase três meses aqui comigo.

Quando Pedro chegou, parecia que de certa forma meu lar, meu lugar, tinha chegado com ele. Junto com ele vinha o calor do Recife. As comidas da minha terra e a alegria da minha antiga zona de conforto. Quando encontrei Pedro no aeroporto de Lisboa foi como se junto a ele estivesse toda a minha família e todos os meus amigos deixados do outro lado do Atlântico nessa minha busca por um sonho... No início desse convívio intenso e diário, era o mesmo Pedro de sempre, aquele que eu pensava tão bem conhecer... eu nem sonhava com as surpresas que viriam...

O Pedro que eu aprendi a amar e adotei como irmão, não era aquele que eu pensava conhecer, um ser quase super-humano, todo cheio de qualidades e sem nenhum defeito.... longe disso! O Pedro que eu pensava conhecer era apenas uma ilusão criada a partir de observações superficiais... quando desbravamos Coimbra e o "mundo" percebi que aquele Pedro de Recife não existia... Pedro não era o "meu" Pedro super-humano.... Pedro era o Pedro que eu nunca tinha visto... e perceber isso foi maravilhoso!

Durante 89 dias nós brincamos, falamos sério, brigamos, fizemos birra, nos abraçamos, nos emocionamos... nós nos conhecemos como seres humanos reais e falhos, cheios de defeitos e qualidades... Perceber o quanto Pedro era humano (e não super-humano) foi a coisa mais linda e gratificante da minha vida.

Quando eu, enfim, soube quem era Pedro de verdade, sem máscaras nem subterfúgios, diferentemente do que muitos fazem e pensam, meu amor por ele não diminuiu nem um milímetro... na verdade, meu amor por ele só fez aumentar e se tornar mais sólido e verdadeiro!

É interessante como amar alguém é algo forte e sublime... Quando verdadeiramente amamos alguém, ver essa pessoa de forma plena e crua apenas nos faz amá-lo ainda mais... Por isso, digo a todos você que me lêem: se permitam conhecer seus amigos de forma plena... se permitam conhecer seus familiares (pais, filhos, irmãos, avós, tios, primos) de forma plena... se permitam se conhecer de forma plena... estar aberto para conhecer e perceber o outro não leva ao desamor, pelo contrário, leva ao amor consciente, ao verdadeiro amor: o amor apesar de... porque no final das contas, o "apesar de" não importa se o que se sente é mesmo amor....

Obrigada, Pedro! Sou muito grata pela sua companhia todos esses dias... sou eternamente grata a Deus e ao Universo por ter nos feito cruzar o caminho um do outro... sou grata a você por teres permitido e aceitado ser meu irmão... Sou grata a você por teres me ensinado tanto... por teres me mostrado o verdadeiro Pedro para além de qualquer máscara com que somos obrigados a andar nesse mundo... grata por me amares e por me cuidares... grata por seres verdadeiro comigo e por sempre estares lá para mim, mesmo de forma silenciosa... Obrigada, meu querido irmão por seres quem é: um ser humano lindo com um potencial extraordinário para caminhar na luz dessa estrada tortuosa chamada vida!!!


Já estou com saudades! Essa casa e Coimbra não são as mesmas sem você!!! Volta logo, que Lola quer te conhecer!!! 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Temer é Mais Fácil que Amar




Hoje, depois de tanto tempo sem escrever aqui no blog, não trago uma conversa com Lola, mas um texto que chama todos nós à reflexão sobre a intolerância que grassa a sociedade brasileira atual e, o mundo de forma geral.

Fala-se muito nas redes sociais da intolerância cometida contra o grupo LGBT por alguns cristãos evangélicos e católicos. Em contrapartida, alguns cristãos evangélicos e católicos reclamam da intolerância apregoada por alguns integrantes do grupo LGBT. Há também os praticantes das religiões afro-brasileiras que reclamam da intolerância sofrida por parte de alguns cristãos evangélicos e católicos. Como também alguns cristão evangélicos e católicos se queixam da intolerância por parte de alguns praticantes das religiões afro-brasileiras. E ainda há a intolerância praticada e sofrida pelo posicionamento político, seja esquerda, centro ou direita. Enfim, o que vejo atualmente no Brasil é um crescente culto ao ódio social, em todas as suas esferas.

Alguns justificam suas atitudes intolerantes com base em textos sagrados, sendo as passagens bíblicas as mais citadas. Tudo que não é o "comum" é motivo para ser desqualificado e combatido, afinal, no Antigo Testamento está a Lei de Deus.

Eu, enquanto cristã espírita, não consigo compreender a utilização do texto Vétero Testamentário para exemplificar o que vem a ser "um bom cristão", afinal, os livros que contêm o Antigo Testamento não são o Evangelho de Cristo. Aos que baseiam suas acertivas na Bíblia, eu pergunto se se lembram da passagem do Evangelho, quando Jesus foi questionado pelos discípulos dos fariseus sobre se se devia ou não seguir a Lei de Moisés e dos Profetas, e Jesus, em sua infinita bondade e compaixão responde-lhes que havia dois mandamentos que deveriam ser seguidos e neles estava contida toda a Lei: Amar ao teu Deus sobre todas as coisas e Amar ao teu próximo como a ti mesmo.

Ao meu ver, o verdadeiro cristão se utiliza destas duas máximas para guiar seu comportamento moral, ético e humano. Se eu me declaro cristão, mas apenas apregoo o ódio ao meu semelhante, a intolerância e o conflito, como posso inflar o peito e proclamar que sigo a Cristo? 

O Cristo que eu conheço veio ao mundo trazer a mensagem de Amor de Deus, o Pai de todos nós. Mas o que se vê hoje em dia é uma mensagem de ódio e não de amor. Temor em lugar de caridade. Uma pena que assim seja.

Perdemos tempo tentando qualificar outro ser humano pela sua roupa, sua crença, sua sexualidade, sua ideologia política, ao invés de nos preocuparmos com o que realmente importa e nos unirmos para combater os males reais desse mundo, como a descoberta de uma escravidão contemporânea com as meninas negras e pobres de uma comunidade quilombola no interior de Goiás. É muita perda de tempo e de vida que eu vejo hoje no Brasil. As pessoas estão mais preocupadas em se mostrar superiores a outras do que em efetivamente trabalhar por um mundo mais humanizado e harmônico.

É muito fácil usar o nome de Deus para justificar aquilo que moralmente é injustificável. É muito fácil ser um ótimo ritualista religioso, seguir as regras de sua crença e a praticá-las bem, mas, nem sempre um bom ritualista é um bom homem.

Se apregoa um moralismo social no Brasil, se enche a boca para falar num modelo de "família tradicional brasileira" quando se tem amantes e mal se olha para os filhos. Quem não leu sobre um Deputado da comissão da família, que no Congresso Nacional, durante uma plenária, estava assistindo pornografia? Quer dizer que o modelo de "família tradicional brasileira" é aquele modelo colonial em que a mulher cuida da casa e aguenta tudo calada, o marido é o provedor e tem amantes, e os filhos (exteriormente) fazem e são aquilo que os pais esperam? Então, eu acredito que a família brasileira está mesmo falida. Para mim, família é uma construção de amor que engloba indivíduos diversos que se aceitam e se amam pelo que são e não pelo que se deveria ser. Família é porto seguro e não fachada para propaganda de margarina. Quem pode dizer que tal família é melhor que qualquer outra família? Você? Eu? Ele? Ela? Quem criou a quantificação do valor do amor?

E, por falar em amor, há também intolerância em relação a forma de amar... incrível isso! Se eu sou uma mulher e amo um homem, eu sou bem vista e bem aceita... mas e se for um homem que ame outro homem? ou uma mulher que ame outra mulher? Não pode? Mas, quem estabeleceu a regra de que existe regra para o amor? Deus, que criou tudo o que há, veio a Terra e decretou isso? Deus, que é Pai e perfeito, a expressão sublime do Amor, verdadeiramente condenaria alguém por amar? Não acredito nisso. Acredito sim, que Deus daria tarefas mais árduas a todo aquele que pôde mas não praticou o amor, não o amor da carne, das paixões do ego, mas o Amor divino, aquele que de si tudo dá e nada pede em troca, Amor abnegado e que jamais espera recompensa, esse é o real Amor de Deus.

Como, eu pergunto, podemos sinceramente julgar alguém? Quem somos nós? Quando Deus outorgou o poder de julgamento a um simples ser humano, falho e imperfeito? Quem de nós não tem erros pretéritos e pode, de forma ilibada, atirar a "primeira pedra" sobre qualquer ser humano do Universo? Quem?!? Pois é, nenhum de nós tem esse poder, nem essa alma límpida e "sem pecado"... Então, porque julgamos o nosso próximo ao invés de conhecê-lo e amá-lo?!?

Nós julgamos e não amamos, porque é mais fácil o julgamento e o temor do que sentir e expressar o amor. Amor é coisa difícil, acreditem. Para que possamos amar alguém, primeiro precisamos amar a nós mesmos, contudo, antes de amarmos a nós mesmos precisamos saber quem somos e é aí que a coisa complica. Pensamos que somos algo, que somos assim e somos assado, mas na realidade não sabemos quem somos, pois, a ideia que temos de nós é ilusão, apego construído através do ego que nos projeta aquilo que gostaríamos de ser mas que em realidade não somos. Para saber quem somos faz-se necessário um mergulho em si mesmo, uma reformulação íntima... apenas assim saberemos quem somos e conheceremos nossos defeitos e qualidades... mas, a maioria de nós não quer fazer isso, porque é dolorido, demorado e solitário... contudo, ao meu ver, é apenas depois disso que se pode amar a si mesmo e então amar o próximo... Por isso que hoje amamos pouco e odiamos mais.

O ego nos pega de jeito. É o orgulho, a vaidade, o egoísmo, a prepotência, a intolerância, a arrogância, a mesquinhez, o desamor, a falta de compaixão, a raiva, o ódio... tudo isso está contido no ego, impulsionador das paixões animalescas e instintivas. É mais fácil ser ego, porque ser ego é não modificar-se é seguir a maré e reproduzir comportamentos, preconceitos e estereótipos... é dizer: se todos fazem, porque não eu? É mais fácil apedrejar uma criança que faz parte de um terreiro, do que amar essa criança... É mais fácil debater e ameaçar porque uma pessoa se crucificou na parada gay de São Paulo do que bradar contra os assassinatos dos homossexuais brasileiros. É mais fácil falar mal de quem é da esquerda ou da direita do que se construir propostas reais de mudanças concretas para o nosso país. É mais fácil falar de coisas fúteis do que se posicionar sobre os desmandos de Eduardo Cunha na Câmara. É sempre mais fácil alimentar e criar conflitos do que tentar agir e viver em harmonia. Afinal, a harmonia para existir requer que respeitemos o nosso próximo em todas as suas particularidades, mas, para isso, seria necessário conhecer e entender o próximo, quiçá se colocar no lugar dele, porém, se prefere bater, matar, humilhar, desqualificar, perseguir e xingar o próximo... é mais fácil temer que amar, não é? E é muito mais fácil se fazer temido do que se fazer amado.

Eu apenas me pergunto até quando se utilizará de máximas religiosas, racistas, segregacionistas para se tentar justificar o injustificável?!? Até quando se continuará a temer?!? E a ser temido?!? Hoje em dia se tem medo até mesmo de uma marca de perfume! Inacreditável! Imaginem se começarmos a ter medo do convívio social?!? "Não sairei de casa porque poderei encontrar algum gay na rua e só de olhar para ele eu também "virarei gay"".... "Não sairei de casa porque poderei encontrar um pastor ou um padre e só de ouvi-los posso me converter"... "Não sairei de casa porque posso encontrar um umbandista e só de cruzar com ele estarei fazendo oferenda para orixá"... "Não posso sair de casa porque posso cruzar com um negro e só de olhar para ele terei uma super produção de melanina e ficarei negro também"... "Não posso sair de casa porque posso cruzar com alguém do PT e só de olhar para ele votarei no PT também".... "Não posso sair de casa porque posso cruzar com alguém do PSDB ou DEM e só de olhar para ele votarei no PSDB ou DEM também".... a paranóia social está chegando a tal ponto que se converte em incredulidade... 

Eu, particularmente, preferirei sempre Amar ao invés de Temer! O Amor nos mói, nos purifica, separa o joio do trigo, nos molda, nos engrandece e nos ilumina... e é esse o caminho que eu tento seguir todos os dias: o de amar, sem selecionar a quem, sem quantificar e sem esperar nenhuma recompensa... E, espero de coração aberto, que um dia todos aqueles que apregoam a intolerância, o ódio e o temor à todos aqueles que são diferentes de si, também consigam chegar a amar e deixar de temer e ser temido!

domingo, 15 de março de 2015

A "Marcha" de Amanhã... 15 de Março de 2015, o começo de um golpe?



Fui convidada por um conhecido para confirmar presença na Marcha pelo Impeachment de Dilma Rousseff que ocorrerá em Recife amanhã, na Praia de Boa Viagem, e em vários outros locais do Brasil... Coloquei lá na página que não iria comparecer... mas, por curiosidade fui ler a parte descritiva do "movimento" e alguns trechos que chamaram a atenção...

"◣Na data 15 DE MARÇO, um domingo, toda a FAMÍLIA BRASILEIRA estará reunida nas ruas para exigir o IMPEACHMENT da incompetente presidente Dilma Rousseff."

Esse trecho acima me lembra demais os discursos proferidos pelos militares quando tomaram, através de um golpe de estado, o poder no Brasil na década de 1960... Me lembra dos vídeos que eu vi e de tudo o que eu estudei, das fotografias da TFP desfilando pelas ruas em apoio aos militares, ao horror perpetrado nos porões do DOPS, à falta de liberdade política e civil... e isso me diz que as pessoas por trás dessa manifestação de amanhã das duas uma: ou não conhecem a história recente deste país chamado Brasil ou devem vir de uma família que apoiou o regime militar e não teve nenhum dos seus membros presos, torturados ou mortos... Aí eu penso: o que isso diz sobre essas pessoas?!? Sobre esse ódio que anda sendo destilado nas ruas do nosso país e aqui nas redes sociais?!?

Enfim, há outros dois trechos que me chamaram a atenção também:

"◣A cada dia fica mais clara a culpa (por omissão ou negligência) da Presidente Dilma nos bilionários escândalos de corrupção envolvendo a Petrobrás. Dilma, além de ser Presidente da República há quatro anos, presidiu o Conselho de Administração da Petrobras por quase oito anos (2003-2010) – período onde ocorreram verdadeiras monstruosidades envolvendo recursos da maior empresa do Brasil."

"◣É hora de darmos um basta nisso e mostrarmos que o Brasil não é e nem será de políticos corruptos que se utilizam das nossas riquezas para levarem vantagem e se perpetuarem no poder."

Vejamos, os organizadores dizem que 'a cada dia fica mais clara a culpa (por omissão ou por negligência)', então, não há provas reais de que a Presidenta da República tenha de fato cometido nenhum crime contra a nação, não é? Se assim fosse, o pedido de Impeachment seria legal e válido e já estaria sendo votado no Congresso Nacional, tal qual fizeram com Collor... na forma em que está sendo requerido por uma parcela da sociedade, sem prova alguma de que Dilma Rousseff tenha de fato cometido crime contra o Brasil durante seus governos (o atual com apenas 3 meses de "vida" ainda), então, eu enquanto cidadã brasileira e cientista social, só posso analisar tal ato como ilegal e golpista... quanto às datas em relação a Petrobrás (2003-2010) e os escândalos atuais, por favor não esqueçamos a corrupção e os escândalos ocorridos na mesma empresa estatal na década de 1990 quando nem Dilma nem o PT eram o governo federal e nenhum deles foi investigado, diferentemente dos escândalos atuais, ou vocês não acompanham as operações da PF para prender os culpados pelo desvio de verba da Petrobrás?!? Mais uma vez a pergunta: falta de conhecimento histórico?!?

Quanto a última citação da página onde os organizadores dizem que o 'Brasil não é nem nunca será de políticos corruptos', eu me pergunto se as pessoas que organizam o ato de amanhã nasceram hoje, porque, desde que o Brasil foi colonizado que a elite que o governava (vejam, lá se vão 515 anos!) vilipendia e corrompe a nossa política, impulsionados pela ganância de poucos em detrimento dos reais interesses da nação brasileira. Então, por favor, vamos parar de hipocrisia e leviandade e vamos assumir a culpa, meus caros! A corrupção do nosso país não é culpa do PT, nem de Dilma, a corrupção do nosso país é culpa da população que vota e sempre votou em homens sem honra nem dignidade, naqueles que podem "me ajudar", "ajudar minha nora" ou "ajudar meu filho"... o povo brasileiro sempre votou naqueles que lhes deram um milheiro de tijolos, uma dentadura ou contratos milionários....

Se você vai pra rua amanhã, vá por motivos sólidos e legais... grite pela reforma política, pelo fim do patrocínio das campanhas eleitorais por grandes corporações privadas... exerça seu legítimo direito ao protesto, o que é justo e lícito, mas, não clame por algo que é ilegal e anti-ético, clamar pelo impeachment nada mais fará de você do que um golpista e não um cidadão brasileiro consciente....

E, só pra lembrar: antes de conseguir acabar com a corrupção na política brasileira, comece a praticar antes no seu cotidiano - não fure fila, não peça ajuda do seu amigo gerente para passar na frente dos outros no banco, não falsifique carteiras de estudante, não faça gato com a energia, não dê um trocado ao guarda que lhe parar numa blitz, não copie e cole textos da internet e entregue como se fosse seu, não cometa plágio, não "dê o jeitinho brasileiro", não aceite suborno no cumprimento do seu dever, não desvie verbas públicas... todos estes atos são atos de corrupção, se você pratica algum deles, por favor, proteste amanhã contra a corrupção que há dentro de você para depois poder, verdadeiramente, pleitear o fim da corrupção nacional... mas, até que nenhum brasileiro (ou ao menos 90% deles) faça nenhuma destas coisas e se conscientize que corrupção não é apenas 'o ato de desviar verba pública' mas que está presente nas pequenas coisas da vida cotidiana, ainda estaremos elegendo políticos como Renan Calheiros e tantos outros similares....

Ah! Não, eu não vou amanhã pelo simples fato de que as eleições já aconteceram em outubro do ano passado e as próximas só ocorrerão em outubro de 2018, então, aconselho a esperarem até lá para poderem, constitucionalmente, tentarem mudar o Brasil!

quinta-feira, 12 de março de 2015

15 de Março de 2015... Golpe Também é Culpa da Dilma...






Tentei muito me abster a escrever aqui qualquer coisa referente à manifestação do dia 15 de março no Brasil, mas diante de toda a agitação, do ódio que vejo nas redes sociais e da ebulição que existe em nosso país percebi que eu deveria ao menos dar minha opinião sobre tudo isso.

Há uma convocatória para que os "brasileiros" se juntem nas ruas no dia 15 de março para exigi o impeachment da Presidenta da República, as alegações para tal ato é a crise que começa a assolar o país, o aumento dos preços da gasolina, dos alimentos, os desvios de verbas da Petrobrás, enfim, a lama que hoje está borbulhando em nossas instituições políticas. Mas, dentre os motivos para tal requerimento, não há provas reais e concretas do envolvimento da Presidenta em desvios de verbas ou atos ilegais (motivos jurídicos legítimos e legais para requerer-se o impeachment de um chefe de Estado).

Então vejamos, se não há motivos legais para a petição de impeachment, e mesmo assim, uma parte da sociedade clama por ele, isso não seria a configuração de um golpe? Vocês lembram do golpe deflagrado no Brasil no dia 31 de março de 64? Quando a desculpa de uma parcela da sociedade e das forças armadas era que o nosso Presidente queria instalar o comunismo no Brasil? O quanto muitos de nós caíram nesse conto da carochinha e viram depois seus parentes desaparecerem para nunca mais? Quantas mães ainda hoje choram por não poderem ter enterrado seus filhos? Quantos filhos ainda choram hoje por não terem podido enterrar seus pais? Pois é, como podem ver é muito fácil construir um discurso bonito e nacionalista para justificar ações ilegais contra o poder constituído, basta uma parcela descontente da população (que tenha recursos financeiros reais e sólidos, porque pobre favelado quando protesta é morto ou jogado na cadeia) e temos então uma conjuntura favorável à golpes e pseudo-protestos civis...

O que me espanta nisso tudo é que todas as pessoas que pedem pelo impeachment não devem ter parado para pensar nas entrelinhas contidas nas ações do governo federal desde o começo da crise mundial até o presente momento. Vocês acreditam que as reduções do preço dos combustíveis, o aumento do emprego, o controle da energia para que as contas de luz não aumentassem tanto, os investimentos nas universidades e nos institutos técnicos, a redução dos impostos sobre automóveis, enfim, todas as medidas que o governo federal vinha adotando até o ano passado, não tiveram custos pros cofres governamentais? Acreditam mesmo que todas as medidas tomadas para blindar o Brasil do real impacto da Crise Mundial não trouxeram ônus para o governo? Bem, meus amigos, se vocês pensam isso então devem ser muito ingênuos ou não se interessam em estudar (ou ao menos ler veículos políticos e econômicos sérios) sobre a história econômica e política recente do nosso país. Então, agora, está a hora de ajustar as contas e para isso são necessárias medidas impopulares e que oneram todos nós... 

Eu fico imaginando, então, o que o pessoal que sairá às ruas daqui a três dias para pedir ilegalmente o impeachment da Presidenta fariam se vivessem aqui em Portugal, hoje e no começo da crise. Sim, eu vivo em Portugal temporariamente para estudar, e o que eu vejo aqui muitas vezes me entristece profundamente e me faz pensar em como temos sorte em viver no Brasil, apesar de todas as nossas seculares mazelas sociais.  Semana passada eu li uma matéria num dos jornais portugueses explicando que o aumento em mais de 60% dos internamentos de crianças nos hospitais portugueses, de janeiro até agora, era a fome. Vocês entendem isso? 60% das crianças portuguesas estão dando entrada nos hospitais porque estão passando fome! Outra matéria mostrava o depoimento de uma caixa de uma rede de supermercado daqui dizendo que os empregados de tal rede trabalhavam sob um regime de escravidão, sem direito de sair para ir ao banheiro, sem direito de ter horário de almoço, ganhando 267€/mês, muito menos que o salário mínimo (que aqui em Portugal gira em torno dos 460€)e ainda tinha que ter mais dois empregos para poder pagar aluguel, comprar comida e cuidar dos filhos... E o que dizer das casas abandonadas nas pequenas vilas portuguesas? Casas fechadas e algumas em ruínas porque foi preciso abandonar tudo e ir para outro país arrumar trabalho para não se morrer de fome? Essa é a face de um país que ainda sente a crise em seus interstício, mas que está aos poucos conseguindo se recuperar... O que vocês fariam se fossem portugueses e tivessem vivido a crise em sua mais devastadora fase?!? Iam pedir impeachment aqui também?

Mas, voltemos ao Brasil... O que eu percebo sobre a motivação da manifestação do dia 15/03 é que ela está sendo convocada pelo peso no "bolso"... Fala-se de corrupção mas a verdade é que o peso no bolso é o verdadeiro motivo por trás do pedido de impeachment... Não é a corrupção, não são os desmandos sociais, não, não é nada disso... é o peso que se sente no bolso com o aumento de tudo, esse é o verdadeiro motivo.

Sim, muitos podem pensar "ela mora fora o que ela sabe?"... Eu moro fora, verdade, mas minha família e amigos moram no Brasil e vivenciam tudo o que vocês vivenciam, contudo, nenhum deles se propõe tentar dar um golpe de estado por conta disso. 

O que mais vejo no Facebook, das pessoas que dizem ir no dia 15/03, é a raiva pelo aumento da gasolina, do preço dos alimentos, o aumento do dóllar, o aumento do euro, o aumento de impostos.. ah, sim! Há também o desvio de verba da Petrobrás, é verdade, cuja investigação aponta para quase TODOS os partidos políticos, incluindo o PSDB... mas, para uma manifestação que se diz "a favor do Brasil" me espanta não perceber certas pautas na lista dos "manifestantes"...

Eu não vejo ninguém dizer que estará na rua no dia 15/03 para protestar em favor do filho de um casal gay que foi espancado numa escola em São Paulo, ficou em coma e morreu essa semana. Eu não vejo ninguém dizer que no dia 15/03 estará na rua para protestar contra a chacina de 12 adolescentes inocentes numa comunidade de Salvador... Eu não vejo ninguém dizer que vai às ruas no dia 15/03 protestar contra os crimes de ódio cometidos no Brasil, contra negros, mulheres, homossexuais... Eu não vejo ninguém dizer que vai às ruas dia 15/03 protestar contra os "gladiadores do altar", nem contra os evangélicos que invadiram uma Igreja Católica e destruíram imagens de santos tombadas como patrimônio histórico, no interior de Minas Gerais... ou contra a intimidação de crianças católicas, por adultos evangélicos, no sertão da Paraíba... ou contra a tentativa de invasão de terreiros e espancamento de filhos de santo e participantes das religiões afrobrasileiras por fiéis evangélicos.... Eu não vejo ninguém dizer que vai às ruas no dia 15/03 protestar contra o aumento dos casos de estupro de mulheres no nosso país, ou protestar contra os estupros coletivos ocorridos com as alunas do curso de medicina da USP.... Eu não vejo ninguém dizer que vai às ruas no dia 15/03 protestar contra o Congresso Nacional mais corrupto que tivemos na última década...

Pois é, caros amigos, eu não vejo a manifestação do dia 15/03 como um ato civil em favor do Brasil, simplesmente porque não é o Brasil o que está em pauta... porque nenhum dos itens acima e que afetam o cotidiano de tantos brasileiros está em questão... E sabe porque não está em questão? É simples na verdade... Nenhum dos itens acima, nada daquilo que melhoraria a nossa sociedade e a qualidade de vida de muitos (a possibilidade de se ter uma vida, para muitos), nem tampouco a análise de que se ELEGEU democraticamente o Congresso atual através do voto "consciente" de cada brasileiro... ou que a Presidenta da República, também foi ELEITA DEMOCRATICAMENTE pelo voto da maioria dos brasileiros... nada disso está na lista dos manifestantes do dia 15/03 porque se estivesse eles teriam que desconstruir o tosco discurso que tudo é "culpa da Dilma", porque eles enfim admitiriam que tudo é "culpa de todos"...

Covardemente tenta-se se eximir da culpa pela sociedade doente que se tem, procurando apontar culpados... tudo no Brasil é culpa da Dilma, desde a falta de água em São Paulo (causada por incompetência do governo estadual), até o mais ínfimo problema no menor município brasileiro... é muito triste mesmo perceber que quem vai protestar não conhece nem mesmo a divisão dos poderes no país em que nasceu e vive (com exceção dos brasileiros que vivem em Miami e vão protestar pelo impeachment também)... ah! mas, na verdade todos sabem não é mesmo? Contudo, porque deixar de culpabilizar a única pessoa que eu quero ver fora do poder? Porque deixar de dizer que é culpa da Dilma, quando na verdade é culpa do próprio povo brasileiro? Pois é, eu chamo isso de falta de coragem de admitir que estamos todos errados e que necessitamos mudar nossas posturas perante as chagas putrefatas existentes em nossa sociedade... Mas, quem de verdade se habilita a fazer isso? O pessoal do panelaço de varanda ou o pessoal que vive essa realidade nefasta de violência, preconceito e condições precárias de existência?

Está na hora de pararmos de tentar enfeitar o dia 15/03 com a roupagem de "manifestação pelo Brasil" e a encararmos como o que é de verdade: manifestação pelo meu bolso, contra a legalidade e legitimidade da eleição de outubro de 2014, a favor de um impeachment que na verdade é um nome bonito para tentativa de golpe de estado... enfim, a manifestação do dia 15/03 é tudo menos uma manifestação pelo Brasil, sinto muito ter que dizer o óbvio... 

Se querem mesmo mudar a Presidenta, esperem até outubro de 2018, quando ocorrerão novas eleições, para assim, exercerem seus direitos de forma legal e legítima. Sim, a recessão está aí, mas não durará para sempre, isso também passará... Agora, o que não passará é a tentativa de golpe, são os ecos de feridas abertas na década de 1930 e em 1964 (os outros golpes ocorridos no Brasil) que ainda doem no peito daqueles que realmente perderam tudo, muito mais do que dinheiro....

Se quiser protestar, eu super apoio... como apoiarei sempre o direito de todos nós protestarmos contra aquilo que não concordamos... mas, antes de sair de casa no dia 15/03, tenha a certeza de estar protestando por coisas verdadeiramente importantes para o país e não para engrossar coro de golpe ou apenas protestando pelo próprio umbigo...