sexta-feira, 21 de junho de 2013

1964 outra vez...por não se conhecer a História do Brasil

Pensei em me abster de escrever um texto sobre os recentes acontecimentos nas ruas do Brasil, mas ao perceber sua semelhança com os movimentos desencadeados em nosso país, no ano de 1964, não pude me conter e eis aqui minhas impressões, minhas visões e, quiçá, meus alertas!
 
Antes de mais nada, gostaria de reproduzir para vocês o Editorial de "O Globo" de 02 de abril de 1964, para que assim fique mais claro o que desejo expor ao longo dessas linhas:
 
“Ressurge a Democracia”
 
Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
 
Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo. Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez. Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.
 
As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.” No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei. Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
 
Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo. A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País. Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor.”
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Acredito que agora vocês terão um panorama do porque não pude me abster de escrever-lhes estas linhas!
 
 
Pois bem, se prestaram atenção à partes em vermelho, será que conseguiram vê-las nos gritos que estão atualmente nas ruas?!? Eu sim!!!
 
Percebam, nosso país passou por dois momentos de tensão, que restringiu os direitos civis e políticos de TODOS os cidadão brasileiros! O primeiro, para quem perdeu essa aula, foi nos anos 30, com a instauração da Ditadura Civil do Estado Novo de Getúlio Vargas! Isso, mesmo Lola! Ditadura Civil!! Vocês sabiam que foi nesse período que o DOPS foi criado?!? Não?!? Então voltem urgentemente às carteiras e aos livros!!! Vargas é por muitos considerado um dos melhores presidentes do Brasil por ter instituído o salário mínimo e diversos direitos aos trabalhadores, contudo, tinha em seu discurso e sua práxis postura bem alinhada com os regimes Nazi-Facistas europeus (isso mesmo, era simpatizante de Hitler e Mussolini) que estavam dizimando milhões de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial! Vargas instaurou no nosso país um pensamento de um povo brasileiro puro: Católico, branco... alguém lembrou-se da Alemanha?!? No governo varguista, os terreiros de candomblé e umbanda eram destruídos, incendiados e, seus babalorixás e suas ialorixás presos, torturados e, algumas vezes mortos! As minorias não tinham muita importância para Getúlio, a não ser quando lhe interessava aumentar sua popularidade. No Estado Novo também se usou o discurso patriota e democrático! Mas, como democrático se não existiam eleições diretas?!? É Lola, precisamos abrir os olhos!!
 
Depois de Vargas, eis que chegam os mui patriotas e quase messiânico militares! Atenção! Antes de entrar na Ditadura Militar, mais alguns fatos de nossa história! Na década de 1950, desencadeou um grande movimento no Brasil chamado de Ligas Camponesas. O seu maior líder, João Pedro Teixeira, criou um movimento em Sapé-PB reivindicando direitos (que eram inexistentes) para os trabalhadores da cana-de-açúcar e, para além disso, a reforma agrária seria o fim concreto deste movimento. Em Pernambuco, no Engenho Galileia, as ideias que permearam Sapé teve também seus ecos! Francisco Julião, advogado e deputado estadual, comprou a briga e se transformou num ícone do movimento! Você acha que a elite latifundiária e agrária brasileira gostou dessas agitações sociais?!? Quem você pensa que sempre sustentou a política?!? As massas?!? Por favor!! Faz-me rir!!! Qual foi o fim das Ligas Camponesas, Lola?!? Massacre, extermínio, exílio, prisão, tortura!!!
 
Segundo grandes historiadores brasileiros, o Golpe Militar de 1964, teria começado a ser pensado e instrumentalizado em 1924! Lembrem-se! Em 1914,  Primeira Guerra Mundial!!! Em 1917, Revolução Russa!!! No começo dos anos 20, manifestações a favor do voto feminino!!! Conseguem perceber a conjuntura?!? O mundo se modificava no início do século XX, novas formas de fazer política, guerras, revoluções, o surgimento do socialismo, tudo isso leva a elite brasileira a começar arquitetar a tomada do poder, para que AQUI não perdessem seus privilégios!!! Quando essa 'ameaça' de um governo socialista que visava as minorias e flertava com a antiga URSS e a China comunista se fez visível, o "povo brasileiro" arquitetou e desferiu aquele que seria o mais nefasto momento de nossa recente história: A Ditadura Militar!
 
Reparem, quem foi às ruas?!? As alas conservadoras da Igreja Católica, representadas pela TFP (Tradição, Família e Propriedade), as Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), os partidos e políticos da Extrema Direita! Esse era o "povo brasileiro"?!? Ainda bem, então que eu não tinha nascido!!! A Ditadura Militar Brasileira trouxe para nossa sociedade o cerceamento das liberdades civis e políticas, a censura, a não-liberdade de imprensa, torturas, exílios, mortes (até hoje, mães, pais, filhos e filhas, não puderam enterrar seus entes mortos nos porões da ditadura), isso só pra dizer o mínimo!!! Atos Institucionais, como o AI-1 e AI-5 (não sabe o que foi isso? livros, urgente!!)!! Fechamento do Congresso Nacional!! Discurso nacionalista-totalitário, que assumia uma roupagem de "democracia" e "apartidarismo"!!! Quando isso mudou, Lola?!? Só na primeira metade da década de 1980, quando a SOCIEDADE CIVIL e os PARTIDOS DE ESQUERDA foram às ruas, JUNTAMENTE COM AS MINORIAS, OS MOVIMENTOS SOCIAIS, ENFIM, O POVO BRASILEIRO, protestar e pedir pelas Diretas Já e Anistia!!!
 
Lola, o que essa meninada tá esquecendo é que se hoje elas vão às ruas, devem isso aos PARTIDOS de Esquerda! Às ENTIDADES DE BASE!!! Aos SINDICATOS!!! Aos MOVIMENTOS SOCIAIS!!! Sim, sim, Lola! A esquerda brasileira anda desacreditada, eu sei! Se encastelou e se afastou das bases que lhe foram tão caras! Mas isso não é motivo de rasgar bandeiras, queimar bandeiras, expulsar e bater naqueles que carregam sem medo suas ideologias em forma de símbolos! De tudo o que vi e presenciei esses dias, apenas aqueles que carregavam bandeira (e que foram impedidos de participar das passeatas) tinham, de forma real, argumentos sólidos e bem fundamentados!! A meninada está empolgada, como também estiveram aqueles que contribuíram para o Golpe Militar e, como eles também, total e completamente SEM FOCO!!!! O que eu quero, Lola?!? Eu quero que o país mude!!! Mas que isso seja feito de forma consciente, responsável e baseado em plataformas sólidas e incontestes!!! Eu quero um país melhor para todos que aqui estão e todos que ainda hão de vir!!! Eu NÃO quero impeachment de Dilma Rousseff!!! Eu NÃO quero servir de massa de manobra pruma Direita ESCROQUE e COVARDE! Eu NÃO quero ANARQUIA!!! Eu não PERMITO que esses meninos manipuláveis e acéfalos que depredam o PATRIMÔNIO PÚBLICO (ou seja, de todos nós!), que confrontam a POLÍCIA sem motivo, que GRITAM "FORA DILMA" ao invés de GRITAREM "REFORMA POLÍTICA JÁ", que se acham superiores, que não comungam das causas das minorias, que não sabem o que é periferia nem entidade de base, que se espelham em BOLSONAROS e FELICIANOS, ME REPRESENTEM!!! ESSES BRASILEIROS CRETINOS, DEFINITIVAMENTE, NÃO ME REPRESENTAM!!!! Ao invés de chamar "VEM PRA RUA", por favor chamem "VOLTEM PRA CASA E ESTUDEM A HISTÓRIA DO BRASIL"!!! Ou, vocês querem MESMO compactuar com o GOLPE que se descortina bem em frente aos seus narizes e só vocês ainda não perceberam?!?
 
Quem eu sou, Lola?!?
 
Eu sou Priscilla Pinheiro Quirino, brasileira, historiadora, 31 anos, ex-filiada ao PT (dos 16 aos 24 anos), neta de um preso político torturado nos porões da Ditadura, ativista pelas causas sociais, membro e apoiadora das minorias brasileiras, idealista (apesar de todos os pesares), professora, cidadã consciente e política, simpatizante e sempre atuante na esquerda de todas as correntes, e, definitivamente, não me deixarei usar como bucha de canhão pelos escroques que estão aí arquitetando e maquinando um novo GOLPE!!!
 
 
#GOLPENÃO!!!!

2 comentários:

  1. É bom saber que não estou só. Apesar da minha posição centralizada, às vezes me desequilibro para um lado e para o outro, tento sempre me policiar nisto. E mesmo não sendo total de esquerda e gostando de algumas ideologias da direita vejo o que está acontecendo, parece um quebra-cabeças se montando sozinho diante dos meus olhos. Quero impedir isso, mas como fazê-lo sem causar alarde desnecessário ou soar como uma paranoica? Infelizmente não sei, mas ao menos estou tentando discutir isto com amigos mais próximos e ver se eles também pensam como eu.

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