segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Marina Silva: Brasil, entre a Democracia e a Teocracia?









Bom, Lola, diante dos panoramas que estão sendo construídos para as eleições do Brasil de 2014, não poderia me furtar em elaborar textos que falassem dos três principais candidatos. Deixando de lado as implicações explícitas e subliminares da morte de Eduardo Campos, começo aqui uma análise racional e pragmática acerca dos seguintes candidatos ao posto máximo de comando na nação: Marina Silva, Aécio Neves e Dilma Rousseff. 

Pois bem, começaremos nossas análises com a candidata Marina Silva do PSB.

O que observamos nesses últimos dias foi a construção do discurso de "Marina Silva, salvadora da pátria", "Marina Silva, a candidata dos insatisfeitos", "Marina Silva, o novo jeito de fazer política"... Então, Lola, o negócio não é bem assim, né amiga? Para aqueles que, nas redes sociais, corroboram esses discursos emocionais e falaciosos, sem base crítica e analítica real... para aqueles que se abstém de procurar saber mais a fundo o que envolve Marina Silva, a política, aqui vão algumas considerações.

Segundo Marcelo Hailer, "além de ter o seu nome ligado às questões ambientais, outro discurso que se articula em torno da figura de Marina Silva é o de que ela seria a representação dos 'insatisfeitos', nesse caso, os milhões que foram às ruas do Brasil exigir melhorias nos serviços públicos brasileiros. Se tratarmos a candidata no que diz respeito a um Estado mais presente, esta tese está certa, porém, muitos outros temas estiveram presentes, tais como: desmilitarização da polícia, descriminalização e regulamentação do aborto, legalização e regulamentação da venda e consumo da maconha, democratização dos meios de comunicação, transporte público de qualidade com acesso gratuito, criminalização da homofobia e, por fim, a efetivação do Estado Laico [...] Mas se até aqui os principais candidatos à presidência da República, com algumas diferentes nuances em política externa, pareciam fazer o mesmo discurso, com a entrada de Marina Silva no embate eleitoral as questões sociais e principalmente ligadas ao Estado Laico e sexualidade podem voltar à tona, até mesmo para revelar o campo em que se encontra a candidata do PSB, que em termos religiosos é tão praticante e conservadora quanto o Pastor Everaldo (PSC)."

Repare, Lola, o Marcelo fez uma análise consciente e sóbria e aponta aquilo que muitos não estão querendo ver. A "promessa" de Marina Silva como candidata daqueles que foram às ruas do Brasil manisfestar sua indignação e pedir por melhorias e demais pautas é, incontestavelmente, uma análise pueril de uma realidade vividamente distinta! Marina Silva, para além de política é professadamente uma devota evangélica e como tal, em entrevista dada aos veículos de comunicação, defendeu em público, o Pastor Marco Feliciano que foi Diretor da Comissão de Direitos Humanos e que apregoava a "cura gay".. opa! Marina Silva é a favor da "cura gay"?!? É preciso que se pergunte a posição da candidata no que diz respeito às conquistas do grupo LGBT e se no seu governo esse público será atendido de forma justa e igualitária, independentemente de sua crença e da maioria da bancada do Congresso ser composta por evangélicos... se ela representa mesmo a mudança, então deve dar mais voz aos movimentos sociais de base que reivindicam a manutenção de seus direitos como cidadãos, independentemente de sua orientação sexual, afinal, a vida sexual de cada um só diz respeito a cada um, mas o cumprimento de seus direitos civis diz respeito a todo o país.

Sergio Saraiva, aponta Marina Silva como um "poço de contradições"... segundo ele " Marina é um caso de radicalismo improvável de ser posto em prática. Alimenta simultaneamente esperanças nos extremos do nosso espectro político. A extrema esquerda e a direita se unem para apoia-la. 'Terceira via' paradoxal, Marina faz oposição ao centro. Um governo de Marina é garantia de traição a um dos lados que hoje a apoiam".

Bem, não podemos esquecer que Marina Silva é apoiada por dois grandes ícones da política neoliberal:  A Natura e o Grupo Itaú da Família Setúbal. Ambos compõem sua Rede, e segundo o próprio Saraiva, "as vezes pensa-se se eles não são a Rede"... Ao mesmo tempo, Marina explora em seus discursos (desde as eleições de 2010) o começo de sua história de luta ao lado de Chico Mendes e as questões ecológicas da Amazônia... discurso este que atualmente se encontra emudecido... De militante política de esquerda contra o descaso com a preservação da Amazônia à patrocinada por industriais e banqueiros, Marina Silva tem mesmo cara de "nova política"?!?


Outro ponto que o Sergio Saraiva toca em seu texto e me levou a reflexão foi a questão das políticas públicas sociais. Como ele bem aponta em suas linhas, até o presente momento ninguém ouviu nada de Marina acerca das políticas criadas pelo Governo Federal para beneficiar a sociedade brasileira... serão mantidos ou serão abolidos?!? E a questão da política econômica?!? Qual a proposta de Marina Silva para melhorar os índices de inflação e aumentar o crescimento nacional?!?

Nas palavras de Sergio Saraiva: "Alguém já ouviu uma palavra de Marina Silva sobre a manutenção das conquistas sociais dos últimos 12 anos? O Bolsa Família, o PROUNI, o PRONATEC, o 'Mais Médicos' e a recomposição do valor do salário mínimo, por exemplo? O que sabemos de Marina a respeito da política econômica? Que Marina defende a ortodoxia neoliberal expressa no tripé - metas de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Música para os ouvidos da especulação financeira. Metas de inflação são alcançadas, no mais das vezes, com juros altos e trazendo a inevitável redução da atividade econômica, mas altos gastos no setor financeiro. O superávit primário vai garantir os recursos necessários para pagar os tais juros, mas, com a redução da atividade econômica, a solução é o corte dos gastos sociais. E o câmbio flutuante garante os ganhos  de capital pela simples intermediação financeira praticada por fundos de investimentos internacionais ou sediados em 'paraísos fiscais' e nos coloca vulneráveis a ataques especulativos que realimentam o processo de especulação. por fim, com a livre circulação de capitais, base da ideia de câmbio flutuante, está assegurada a expatriação integral dos lucros dos 'investidores internacionais' e dos investimentos internacionais. Algum jornalista já questionou Marina sobre se isso não seria uma retomada do modelo do governo FHC?" 

Pois é, meus queridos! Pelo que até aqui expus, podemos ver de forma clara e inconteste que Marina não representa o novo, mas sim um retrocesso ao "velho jeito de fazer política no Brasil"... Contudo, um dos fatores mais preocupantes, e que a diferencia dos governos anteriores, é a presença constante da Bíblia num hipotético governo seu... Não, meus amigos, não sou contra religião alguma, sou deveras a favor de se conectar com o sagrado, mas essa conexão deve ser feita no foro da vida privada de cada um e não atrelada ao Governo Nacional. Sim, Lola, isso poderá acontecer num possível governo de Marina Silva: Um Governo regido pela Bíblia e não pela Constituição, haja vista as posições radicais da bancada evangélica (base aliada e apoiadora de Marina, em sua maioria) na votações de questões acima elencadas... 

Vou finalizando esse texto com mais algumas palavras do Sergio Saraiva: " Aécio não conseguiu formar empatia com o eleitor, patina na casa dos 20% de intenções de voto há meses. Só cresce agregando 'in extremis' o voto do ódio antipetista. Mas nem assim as pesquisas apontam uma vitória, sequer um segundo turno é garantido. Tem além disso, todo o passivo dos seus governos e correligionários em Minas. Marina não. Pode-se moldá-la às expectativas dos sonhadores, dos indecisos e dos insatisfeitos. E, com ela, é possível odiar o PT sem ter de baixar ao nível do calão, de mandar a presidente da República tomar no cu. Garante a volta do conservadorismo ao poder, mas com a leveza de uma 'sacerdotisa dos povos da floresta'. Um símbolo charmoso e dissimulado como o foram os ares de modernidade e dinamismo com Collor de Mello e de intelectualidade com Fernando Henrique Cardoso. E esses governos foram o que foram. Por tudo isso, aqueles que defendem a posição da esquerda, da social democracia, precisam muito falar sobre Marina, apontar mais uma tentativa de engodo. Depois de Collor de Mello e FHC, Marina é o novo ilusionismo da direita".


Portanto, o que nos resta é analisar bem aquilo que Marina Silva propõe x aquilo que Marina Silva defende, pois, caros amigos, são duas coisas completamente diferentes! Analisemos as posturas adotadas em anos anteriores, suas posições políticas e pessoais e não sejamos ludibriados por discursos messiânicos e salvacionistas que são lindos antes da eleição e desastrosos no dia primeiro de janeiro...

Para quem quiser ler os textos aqui citados, os links seguem abaixo:

1. Saraiva:
http://jornalggn.com.br/blog/sergio-saraiva/o-discreto-charme-de-marina-silva#.U_ESfUJsEUA.facebook

2. Marcelo:
http://www.revistaforum.com.br/blog/2014/08/marina-silva-entre-biblia-e-constituicao/


Para quem quer saber um pouco da história de Marina Silva, acho esse texto bastante interessante:

"A Rede de Marina" - http://port.pravda.ru/news/mundo/22-10-2013/35455-rede_marina-0/







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