segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Quando um Momento de Contrição Vira Circo: Considerações sobre o Velório de Eduardo Campos




Sabe, Lola, desde que me acordei hoje, as 10h (6h no Brasil) que liguei o computador para acompanhar o velório de Eduardo Campos. Acreditei, apesar de ser um político e ex-chefe de Estado, que esse seria um momento de contrição, respeito e compaixão para com os familiares enlutados... não, amiga, infelizmente, não foi isso o que eu vi.

A primeira cena que me chamou a atenção foram os vídeos do cortejo dos caixões rumo ao Palácio do Campo das Princesas onde mostravam os filhos de Eduardo Campos a erguerem os braços e cantar palavras de ordem... pensei que aquilo era uma carreata política e não o acompanhar dos restos mortais de um pai amado... a partir daí minha estranheza com esse evento só fez aumentar...

As 14:30 comecei a acompanhar a missa campal... e foi aí que a incredulidade correu solta! Dom Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda e Recife se perdeu em sua homilia... ele desferiu um discurso desrespeitoso e eleitoreiro... chegou ao cúmulo de fazer uma comparação subliminar entre Eduardo Campos e Jesus Cristo... ainda comparou Renata Campos à Virgem Maria e sua sacra fortaleza diante das adversidades... Ou seja, ali vi nascer o processo de "canonização de Dudu"...

Já perto do final da missa, começaram o coro "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro", entoado pelos filhos, parentes, correligionários e população em geral... e mais uma vez a sensação de comício a céu aberto me tomou...

Outra coisa que achei interessante perceber... Luiz Inácio Lula da Silva estava visivelmente abatido e emocionado, inclusive chorou muito durante todo o tempo em que esteve no velório... em contrapartida, a vice de Eduardo, Marina Silva, que parecia desconsolada na quarta-feira quando deu uma entrevista coletiva, durante o velório estava sorridente e relaxada... estranho, muito estranho...

Mas, as bizarrices, infelizmente, não acabam por aqui... Ao aceitar falar com Bianca Carvalho, repórter da Rede Globo Nordeste, o irmão de Eduardo, Antônio Campos, desferiu um discurso anti-ético e de muitíssimo mal-gosto, onde procurava se promover de alguma forma através da morte de seu irmão... e viva o mundo da política!

Na saída do caixão de Eduardo, do Campo das Princesas, rumo ao Cemitério de Santo Amaro onde ocorreria o sepultamento, a surpresa das surpresas: uma das músicas que compunham a trilha sonora do cortejo era o jingle da campanha para governador de Paulo Câmara... mais uma vez o mundo da politicagem mesquinha e de quinta estava em ação...

Ao chegar no cemitério, para encerrar as performances desse grande circo, os filhos de Eduardo usaram chapéus de palha (marca registrada da política do bisavô Miguel Arraes de Alencar)... continuaram entoando o bordão "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro"... mas não pararam por aí... houve uma queima de fogos de artifício de quase 30 minutos... como assim, fogos de artifícios num enterro?!? Estavam comemorando?!? Depois dos fogos, eis a pérola: cantar palavras de ordem exaltando o PSB... volto a repetir: num enterro?!? E todo o espetáculo foi encerrado com o Hino Nacional Brasileiro....

O que ficou para mim dos acontecimentos desse domingo foi a sensação de que o ser humano Eduardo Campos foi acintosamente desrespeitado por tudo e todos que ali estavam... Não, Lola, claro que não estou questionando a dor da família! A família, com toda a certeza, sente a dor da perda do filho, do marido e do pai amados.... sentirá para sempre a lacuna deixada pelo ente querido, isso é fato inconteste! Mas, acredito, em minha humilde opinião, que Eduardo merecia ter tido um enterro e um velório condizentes com a dor do momento e não que se aproveitassem de sua partida e da comoção que a mesma gerou para se fazer politicagem da pior espécie!!!

Que aprendamos com isso e na próxima vez que algo trágico assim aconteça, tenhamos a devida contrição e o devido respeito para com os mortos, suas memórias e as dores de suas famílias!!!

Mas, como diria João José Reis: "a morte, definitivamente, é uma festa!"

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